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Annie Hall - um curioso purgatório

Nunca dei a mínima para Woody Allen e quando vieram à tona aquelas acusações de abuso sexual contra sua persona, aí é que piorou: minha indiferença virou um singelo nojinho. Só que eu adoro Diane Keaton, sabe? Andei dando uma lida em sua biografia e decidi que tinha que ver o filme responsável pelo único Oscar de melhor atriz que repousa em sua estante. Foi aí que, uns dias atrás e com vários anos de atraso, habemus Annie Hall (1977), dirigido pelo dito-cujo. 
Chato. Chatíssimo. Insurportável. Me arrastei horas em algo que, tirando os créditos, dura somente 86 minutos, fato que me deixou intrigada, porque muitos dos diálogos são interessantíssimos - vá lá, algumas tiradas do judeu de caráter duvidoso têm seu valor. Não vou me ater a especificações técnicas que domino pouco ou quase nada, mas é como se o filme não tivesse ritmo. A sensação que me deu é que estava espiando da janela esquetes de um casal tedioso e improvável - improvável porque os dois não têm química alguma. Esquetes não, me corrijo, porque eles não fingem, talvez isso seja só a vida que parece se repetir tão assombrosamente com todos os mortais. Na história, Alvy Singer (Allen) é um humorista em crise de meia-idade que nos conta sobre seu rompimento com a aprendiz de cantora Annie (Keaton), e como foi a relação deles até ali. A partir daí, somos brindados com passagens do romance dos dois: como se conheceram, a tortura da primeira conversa disfarçando a tensão sexual e o fato de que ninguém é tão interessante olhando no olho, primeiro beijo, primeiras viagens, bobagenzinhas de casais, enfim, isso pode soar muito romântico, mas que nada... um amontoado de irritação para Brunas. O mais legal é que estou vociferando contra uma película ganhadora do Oscar, ou seja, muito provavelmente a chata seja eu. Quem sou eu para difamar um vencedor de melhor filme, não é mesmo? São questões...
Devo confessar, contudo, que ri bem de umas frases ótimas com que o noivo neurótico se saiu enquanto eu encarava o purgatório. O monólogo na livraria (que homenzinho mais presunçoso!!!) explicando a uma enfadada Annie as misérias de existir me arrancou um berro, mas um berro... não que eu me orgulhe, claro, porque é horrível. Seu esforço nulo em ser uma pessoa agradável e prafrentex, como quando sugerem que ele experimente cocaína, por exemplo, e ele só consegue ser lacônico, também mexeu de verdade com meu humor, estranho humor. Foi aí que me dei conta, chorando por dentro: eu sou muito Alvy Singer na vida. Somos irmãos de alma. Enfim, sigo achando toda a coisa muito sofrível, mas algo acabou sendo cutucado dentro de mim. Que merda, eu odeio Woody Allen.


                          Não deu, miga, mas sigo sendo fã sua e deste look maravi




Auxiliou no post: 

Sound and vision - David Bowie








  

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