Meu pai e eu não poderíamos ser mais diferentes. Eu sou gremista, ele, colorado; Eu gosto de rock e amo um enlatado americano - como ele chama -, ele só ouve música de raiz - como também chama. É tão tradicionalista que chega a dar nojo. Um nojo poético, digamos. Ele é liberal convicto, eu flerto com várias saladas políticas, muito apesar de ter um ímpeto de Voltaire que me seduz. Ele, apesar de ser um baita cérebro, ama uma sessão indolor de Datenas e Rodrigos Faros - este último em pleno domingo, é mole? Já eu prefiro enfiar a cabeça numa betoneira a acompanhar a empreitada. Só que ele entende de arrobas e de bushels , fala de economia e deixa meio mundo calado - já eu, só sei que, felizmente, essas coisas me alimentaram a vida inteira. Perdão por não gostar do que faz seus olhos brilharem, pai. Um homem do campo pai de uma pseudo-patricete-urbana meio desmioladinha... é, a vida prega peças. Ele é tão canceriano que chega a dar raiva - tão chantagista emocional, tão de lua,