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Mostrando postagens de abril, 2011

Vida, Almodóvar e Drummond

        Às vezes, eu fico me perguntando o que é a vida, se não um monte de topadas com a comédia, com o que não estava no roteiro. A gente planeja, se consome em estratégias, perde o sono ensaiando e, bem no fim, nada sai como o esperado. Talvez em dado momento até saia, mas aí... bom, aí bate aquela inquietação clássica: ok, não era bem assim que eu queria. Só há rebuliço interior, de verdade, quando rola alguma cena  à la Almodóvar , quando a salada está instaurada e o diretor ficou louco. Tudo desmorona, mas no fundo a gente sabe que o final reserva uma surpresa reconfortante.               Vida, essa malandra... vive me pregando peças, fazendo eu me questionar o tempo todo, insistindo para eu enfrentar aquilo que me dá legítimo pavor. Me colocando contra a parede e botando o dedo na minha cara: "Eaí, lindinha, o que vai ser?" Vida é sair de casa sem guarda-chuva e cair o maior toró. Vida é virar o pé com um saltinho 15 na frente do seu paquera. Vida é não sair no final

Sem roteiro

Olá, leitores!         O sumiço dos últimos dias foi proposital. Sou tão passional que não dei as caras por aqui, justamente, para deixar essa última crônica platônica como cartão de visitas do blog. Só para vocês a namorarem nem que fosse na marra, sabem? Agora, todos que acessarem esse baú de mimimis vão saber que eu sou louca pelo Chico - e que eu acho que ele melhora cada vez mais com a passagem do tempo. Um viva a esse charme da terceira idade, que só é visível nele! rs         Bom, hoje a "conversa" não tem roteiro. Até tenho textos inéditos e tal com que brindá-los, mas vou deixar isso para outra hora. Vim divagar. Por mais que eu seja uma Anônima da Silvassauro, sinto que alguém nesse mundão véio sem porteira deve ler minhas escritas... será? Será que sou lida? Acessar o povo acessa, mas será que lê? Será que degusta a palavra? Será que minhas opiniões furadas enojam alguém? Será que sou admirada? Será que riem do que eu, com os olhinhos radiantes, digito? Será que

Meu caro amigo

(Sim, isso é um amontoado de palavras puxa-saco! Condenadas a elogiar o Chico nesse pequeno texto, que nem vou chamar de crônica. Leiam os que se sentirem inclinados.)                  Chico é uma exclamação. É um verbo. Mesmo aqueles que torcem o nariz para a cultura brasileira, para o samba de raiz, para pessoas que podem ser chamadas de artistas - com propriedade -, confessem que se sentem assombrados com a inteligência do homem. Chico, além de música boa, é literatura, teatro, opinião, conhecimento. Por favor, a criatura é fascinante! E extremamente sensata. Sempre que assisto a alguma entrevista sua, penso nunca ter visto declarações tão bem feitas por um artista. Um deleite.          Certamente, não se trata de uma unanimidade - ainda que deva estar perto. Mas, em se tratando da instituição Buarque, quem se importa? Ele já é elo irrefutável da história recente nacional. E que história, hein? Nem vou entrar na parte de repúdio ao autoritarismo dos generais malvadinhos e da

Sobre o "Dia do Jornalista"

         Não poderia deixar passar em branco, né? Estudo para ser uma deles, há três anos, logo, me senti na obrigação de deixar um recadinho pela passagem do "Dia do Jornalista" - mais um desses dias festivos inventados por não-sei-quem para que haja uma profusão de cumprimentos hipócritas e demais manifestações dispensáveis.           Pois bem, sei que ninguém perguntou, mas a sensação que mais me assalta quando penso sobre referida profissão - mesmo com uma considerável bagagem de textos lidos e aulas práticas no currículo - é a de que sei muito pouco a respeito. É como tentar apreender algo que não se pode capturar. Talvez aí resida a graça da coisa, não? Teoriza-se muito, mas a mão na massa está longe de se igualar àquilo que vem bonitinho nos livros e nos xérox. Já parei de me iludir que farei parte de um segmento de trabalho valorizado como deveria ser. Já não acho que o tal jornalismo é lindo e serve a todos sem distinção de credo, cor ou classe social. Só não enco

Entre no jogo

            Entre no jogo. Seja cópia. Seja adorável, não crie caso. Entre no jogo. Sorria para quem apunhalou suas costas. Finja que acha normal tanta bizarrice virar notícia. Entre no jogo. Idolatre gente sem noção. Fale que precisa tomar todas. Tenha uma ressaca absurda que o faça vomitar as entranhas e poste isso nas suas – várias - redes sociais. Todo mundo faz. Entre no jogo. Dirija bêbado. Dê audiência para coisas medíocres. Entre no jogo. Seja adepto de programas pelos quais não nutre interesse algum. Você não sabe de nada, fique calado e apenas siga a correnteza.             Entre no jogo. Compre muito. Indiscriminadamente. Adquira dezenas de sapatos, troque de celular todo mês, venda a alma ao diabo, mas tenha. Seja antenado, consuma. Entre no jogo, ele é sedutor. Finja que não vê mendigos na rua. Cachorros abandonados. Pessoas catando papelão. Crianças se drogando nas esquinas. Feche os olhos, afinal, sequer são bonitos, não é? Entre no jogo. Seja um ser humano assim, sei l

Enigma de estação

        O bronzeado quase nem aparece. Os reggaes, cujas letras enterneciam meu coração, saíram do eixo de atenção quase que naturalmente. O calor ainda se faz presente, embora timidamente, mas eu sei que não é a mesma coisa. Não é mais fevereiro. Não é mais verão. Não tem malícia no ar. Não há mais sorveteiros nas ruas. Não há aquele convite maroto para fazer a vida acontecer, para ficar um pouco mais admirando o pôr do sol. Eu sei que ela acontece nas de mais estações do ano também, meus caros, mas não me queiram dizer que é igual.          Ainda não me acostumei com a idéia de não conseguir deixar vivas as lembranças dessa época quente, visceral, insana, mesmo que o tempo passe inexoravelmente. Talvez seja por isso que eu, às vezes, me sinta a mais nostálgica das criaturas, procurando não me prender ao passado, mas também pesarosa de que os dias passem e façam eu me desligar da magia que foi vivida. Isso é só comigo? Só eu sofro desse mal? Alguma coisa me diz que isso deve ser comu