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Mostrando postagens de outubro, 2011

Sobre "Ratatouille"

           Já deveria ter escrito algo a respeito de Ratatouille e esse fascínio que causa em mim, mas só hoje levei o impulso adiante. Pois então, digo que ele é uma delícia, é uma lição de vida, é uma graça, é charmoso, é inteligente, é bem roteirizado, é mais que uma animação e muito mais que um filme "de bichinho" para distrair numa tarde chuvosa. Quando a ótima Isabela Boscov afirma que se trata de “uma odisséia com um rato” , não há exagero: há um fato irrefutável. Rémy e suas peraltices com os ingredientes são um soco filosófico na boca do estômago, seguido de recuperação lenta. Muito lenta.            Não sei se vocês já viram, gostaram ou tiveram vontade de jogar o DVD no lixo, após os créditos aparecerem na TV. Só penso que, se houver ainda um pouquinho de sonho latejando em vossos corações, será impossível não se envolver com a saga do tal Rémy na busca de vencer na Paris dos grandes chefs . Tudo é tão bem arquitetado, que - como também diria a crítica de cinema –

Sobre pensamentos e rosquinhas

       O cérebro, esse artista, faz gato e sapato de nós. Ok, ele pode. Se houvesse uma hierarquia no corpo humano, eu diria que ele é a última bolacha do pacote mesmo. Possui a racionalidade que falta ao coração e é a morada das grandes sacadas. É bem verdade que muita gente por aí anda negligenciando o coitado, se negando a utilizá-lo, mas, ainda assim, outorgo que ele é o fodão. Seu único problema é separar os pensamentos mais corrosivos para os momentos mais impróprios. Impossível fugir do susto. Pensou? Dançou, meu amigo. Digeriu? Vai ter úlcera, vai somatizar, sim. As lágrimas vão cair. O drama vai nascer tímido, mas, ainda assim, dono de si, invadindo seus ossos e seu semblante e convidando a uma deliciosa DR com você mesmo - ou, vá lá, seu alter ego.        Você está lá, quietinho (a) na sua, varrendo seu quarto, ajeitando sua escrivaninha das escritas insones, quando, de repente, uma música tocando no rádio é o passaporte para um divã silencioso e leviano. Nesse instante, os

Focas

         Sempre quis escrever a respeito de estudantes de jornalismo e seus variados perfis. Na maior cara de pau leiga que eu tenho, considero isso um achado da análise comportamental. Sejamos francos: ainda que se busquem profissionais-dínamos-com-super-poderes-e-que-amem-todas-as-mídias, não há como abraçar tudo, não acham? Eu acho.          Se não fui xingada até agora, creio que vamos inaugurar os trabalhos com esse post. É bem verdade que, hoje em dia, com toda essa selva louca e coleguinhas muy amigos e prontos para puxar nosso tapete , devemos nos blindar e tentar aprender o máximo que pudermos, enquanto meras testemunhas do mágico mundo acadêmico - aqui entram leituras, reflexões e, óbvio, a prática. Sei que o conhecimento jornalístico em todos os âmbitos é o básico para quem almeja sucesso profissional na área, mas, ainda assim, terei que discordar de quem enche a boca para dizer que ve-ne-ra tudo que é inerente a essa confraria de doidos. Se você topar com alguém assim, no

Desencontros Drummondianos

        Cazalberto tinha uma queda por Ana Banana, que arrastava um caminhão por Zé Ruela, que era gamado por Mariazinha, que era louca da vida por Fulano De Tal, que dava uns pega na Branca de Neve.         Cazalberto passou no vestibular e foi morar no raio que o parta, Ana Banana entrou para um convento no interior de Minas, Zé Ruela casou e teve 13726 filhos, Mariazinha cansou de esperar pelo príncipe e virou uma piranha com P maiúsculo, Fulano De Tal morreu de cirrose hepática, e a Branca de Neve... bom, a Branca voltou para os sete anões, que era mais negócio.         Já dizia Vinicius: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida...”

Se o Nando foi lá e fez...

          Já ouviram falar do avião que caiu, há exatos 39 anos, no meio da gélida cadeia de montanhas andinas, em um episódio que transcendeu o campo da fatalidade e virou, praticamente, uma lenda? Eu já. E conto a vocês que essa história mexe comigo de uma maneira que nem sei explicar. Me lembro de ter visto, muito novinha, algo na TV a respeito, e depois, mais velha, seguir o faro natural de quem se recusa a ficar só com as manchetes e as metades. Enfim, tratei de investigar e matar minha curiosidade pela raiz.           Fiquei vidrada. A saga do tal time de rugby uruguaio, na tentativa de vencer a cordilheira e voltar à vida foi algo com que, honestamente, me solidarizei, principalmente, quando percebi o quão improvável era escapar daquele inferno gelado. Li, há três anos, a narração comprometida de Fernando Parrado - um dos sobreviventes da tragédia e figura fundamental no processo de resgate - sobre o episódio em questão, em um livro arrebatador e cru. A obra, intitulada "M

Guardem segredo

         Não sou muito partidária de fazer posts temáticos. Sabem? Dia daquilo, dia daquele outro... acho pouco original, sem falar que, para mim, dia do ser humano é todo dia. Sempre é válido homenagear anônimos, conhecidos, amigos e afins pela diferença que fazem em nossas vidas. Mas abro exceções, lógico, não sou inflexível - na real, o que trago na caixa torácica é manteiga derretida pura - por isso, em virtude da data alusiva aos pequenos, resolvi falar um pouco sobre o universo das crianças.          Mas, peraí, esqueçam questões pragmáticas e de cunho elucidativo. Vim falar mesmo é sobre meu período de criança. Eu sei que acontece com vocês do mesmo jeito: basta relembrar a fase em que só estudávamos, olhávamos desenhos incríveis na TV, fazíamos umas artes medonhas e não víamos a hora de crescermos, para as lágrimas ensaiarem uma descida básica pelo rosto. Falando nisso, por que diabos nos tornamos "grandes"? Grande porcaria essa que nos aguardava, né, não? Se soubéss

Pedaços de carne

          "O mundo está ao contrário, e ninguém reparou." Inicio o post de hoje com esse clichezão proveniente da caixola genial de Sir Nando Reis, pois, realmente, no momento, não vejo frase mais cabal para ilustrar o amontoado de pensamentos que acamparam em mim. Eu sei, o mundo e as pessoas são o que são - esse nada flutuante acontecendo em meio a esse lapso de tempo que ninguém consegue assimilar direito - mas certas coisas ainda fogem a minha compreensão. Não adianta, não entram na cabeça. Vejamos... no campo dos relacionamentos, por exemplo.            Não entendo uma pessoa estar com uma outra pessoa, olhar todo dia bem nos olhos dela, deixar trocentas declarações - de amor questionável, by the way - em redes e etc, e chifrá-la como se não houvesse amanhã com o primeiro (a) que aparece louco por um sexo selvagem. Não entendo. Como diria a sempre sensata Martha, deve ser medo de intimidade - estado que abrange muito mais que uma noitada vazia. A geral clama tanto por

Da série: diálogos agridoces

MOONLIGHT SERENADE - Quero ficar com esse teu moletom puído hoje. Me dá? Me dá? - Mas por quê? - Porque eu não posso te acorrentar aqui comigo, então quero, ao menos, um souvenir ... para atravessar os dias longos que vêm por aí. - Adoro teu senso de humor trash . - E eu adoro a tua combinação de barba milimetricamente mal feita mais moletom mezzo adolescente/ mezzo adulto, fazendo um estrago desgraçado nas minhas retinas. - Vou ficar mal acostumado com tantos elogios. - Tu merece. Ou melhor, não merece, mas quem decide sou eu.. cala a boca e tira a droga do moletom. - Chega de brincadeira. Eu preciso ir... - Vai, mas deixa o fofinho do capuz. Enfim, se não quiser se desfazer dessa peça de roupa, que tem estranhos poderes sobre mim, aliás, a ideia do acorrentamento ainda segue atazanando meus instintos... que tal? - Não dá. A gente precisa voltar para o mundo real. Contingências diárias gritam lá fora. - Droga! Jurei que poderíamos ficar por Neverland dessa vez... - Hum

Por Dios, madrecita!

          E eis que ficou com cara de nada olhando para a porta da redação barulhenta do jornal, onde, geralmente, escrevia seus poemas secretos. Foi rápido, mas, de repente, já não estava mais ali. Malagueña Salerosa tocava distante, ainda que claramente audível. Foi aí que tudo fez sentido. Descobriu estar trajando um vestido preto, dono uma generosa fenda, carregar uma flor vermelha entre os cabelos revoltos e negros e estar sendo embalada por um gentil cavalheiro, cujas feições brincavam com seu discernimento - não sabia de quem se tratava, mas até que funcionavam bem juntos. Ele dançava com ela, que dançava com os olhos amendoados e promissores dele. Havia uma plateia de curiosos em volta, mas já estavam de partida. Daqui a pouco, ali, seriam só aqueles petulantes e a luz como cúmplice. A música parecia não ter fim, o momento pedia para ser congelado - poucos merecem ser eternos nessa vida, e aquele precisava.           A letra, ainda que contasse o lamento de um amor fadado ao