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Mostrando postagens de novembro, 2011

Palavras de uma Cartólatra

          Encerro o mês de novembro com uma homenagem ao saudoso Angenor de Oliveira - ou Cartola , como ficou eternizado - cujo aniversário de morte se dá hoje, dia 30. Tenho fascinação pela história desse homem, que, mesmo tendo origem humilde, trilhou um caminho brilhante na música brasileira. É o tipo de figura pela qual tenho interesse genuíno, uma admiração gratuita, um carinho inexplicável, sem que seja necessário racionalizar. Sentir está de bom tamanho. E Cartola inunda meu coração tímido e boêmio de sentimentos, assim meio que de graça, sabem?           Mais que a doçura de suas canções, o que me instiga mesmo é a trajetória marcada por percalços que protagonizou ao longo da vida - em que sua arte escandalosa conviveu com a mesquinharia e sua genialidade com o abandono. O famoso mangueirense, ainda que compusesse verdadeiras relíquias, foi em boa parte de sua existência, um andarilho, sem eira nem beira, trabalhando em atividades que pouco contemplavam suas habilidades artís

Freddie vive

         No último dia 24, completaram-se 20 anos da morte de Freddie Mercury - meu vocalista preferido, desde o tempo em que eu nem suspeitava que fosse gostar de Queen . Nunca havia escrito nada muito organizado para ele, então, hoje, resolvi deixar registrada a minha louca admiração por esse exemplar purpurinado do rock mundial. E não é crônica, a propósito. Vou chamar de declaração passional de uma fã bem intencionada e que tem a mania irritante de ser efusiva. Bora pagar pau pro Farrokh Bulsara?          Cara, eu amo o Freddie! Amo as gayzices dele, amo as dancinhas, amo a genialidade, amo a audácia de misturar muito dignamente ópera com rock n' roll, amo o talento ímpar, amo seus figurinos bizarros, amo sua virtuosidade para instrumentos musicais, amo sua timidez nas raras entrevistas que concedia, amo seu humor involuntário, amo o lirismo de suas canções, amo as palavras malcriadas que ele disse no Queen live at Wembley '86 - em resposta a um rumor de dissolução da ba

O cara

Basta ele entrar no recinto, para todas torcerem os pescocinhos esperançosos em sua direção. Talvez nem quisesse chamar tanta atenção, mas o fato é que chama. Ele é o cara, não se discute. Entretanto, não age como se fosse o maioral. Não faz o tipo exibido, daqueles que adoram contar vantagem para os amigos. Apenas desfila com uma confiança marota, exalando, humildemente, seus feromônios para a plateia de lobas salivando. Chega, na dele, sossegado, troca algumas palavras com um conhecido que encontrou, ali, por acaso. Ri uma gargalhada gostosa e indecifrável, enquanto seu sensor de macho que sabe o que quer capta tudo o que acontece à volta. Usa um perfume que embriaga qualquer mocinha incauta que ouse chegar perto. Ninguém sabe o nome da fragrância, mas certamente é responsável por uma espécie de paralisia. Pobres das mortais que sentirem, nem vão dormir à noite. Ah, tem mais essa: ele tira o sono, o cara. O cara é um ponto de interrogação que não foi desvendado nem pela mãe dele.

Alma doidivana

Olá, meus anônimos preferidos!        Tô passando rapidinho hoje! Nada de reflexão, diálogo ou resenha passional de filme. Vim deixar uma letra que eu amo de paixão e que serviu de inspiração para um blog que criei, em outubro de 2010 - um pouquinho antes de eu trazer minhas tralhas, em definitivo, pro endereço agridoce. Cêis sabem que eu curto música, tipo demais, né? Cêis sabem também que eu vivo grudada com meus fones de ouvido, né? Pois bem... "Cena Beatnik", do Nei Lisboa, apareceu aleatoriamente aqui no meu radim , e eu pensei em dividir com vossas senhorias a energia fofa que ela me transmite.        Meu extinto recanto, "Alma Doidivana", me dá uma saudadinha , mas a inspiração foi para sempre. Sabem por quê? Porque, no fundo, sei que qualquer um pode ser um pouco doidivana, carregar na alma um doce devaneio, um velho desatino. Ou ter, quem sabe, no caminho, algum doidivana que inspire os mais velhos devaneios e os mais doces desatinos. Vai saber, né? Is

Senza fine

         Nós fomos um porre, cuja ressaca ainda provoca alucinação e dor de cabeça. Nós fomos um vendaval, um dia de calor escaldante, um típico feriado de outono. Nós fomos o incenso que queimou e só deixou o cheiro impregnando o ambiente. Nós fomos chuva com sol, culpa e redenção. Nós fomos mais que cúmplices, fomos membros de uma seita secreta. Nós fomos a turnê que foi cancelada, os ingressos de uma peça que nunca foi ensaiada. Nós fomos uma cena do Tarantino, daquelas bem ridículas e fascinantes. Fomos uma tela audaciosa do Dalí, um parágrafo de um livro do Freud que encalhou na prateleira, porque assustou muita gente.           Nós fomos equação sem solução, uma questão dissertativa, cuja resposta não convenceu a professora. Nós fomos a música que a gravadora dispensou por ter um refrão incompreensível e ser pouco comercial. Nós fomos inconsequência travestida de lugar-comum, uma poesia concretista, uma barra de chocolate meio amargo. Nós fomos marketing viral, pauta sem fonte

Da série: diálogos agridoces

O PIADISTA E A NUDEZ COMPARTILHADA -Eu nunca deveria ter me despido pra ti! -Ah, mas foi tão bom... é tão bom.. hehe -IDIOTA! Falei metaforicamente... -Tu e tua velha insistência em colocar poesia onde não existe... -Tu e tua velha mente que só pensa em sacanagem... -Tu gostou da sacanagem também, poetisa! -Sim, mas agora quero filosofar. Posso? -Não, não pode. Não, sem antes vestir algo, né... (risos maliciosos) -Vou ficar do jeito que tô. E trata de prestar atenção. -Tá legal, mas por que tu falou nisso justo agora? -Porque eu sei que isso é um erro. -Erro incrível... vamos cometer de novo? -IDIOTA! Me refiro ao que te disse antes... fiquei nua quando falei de sentimentos. -Não tem nada de errado nisso... -Tem, sim. Sei que tu vai usar tudo isso contra mim, mais cedo ou mais tarde. -Por que tanta certeza? -Eu sei bem com quem tô lidando... -Não parece. -Opa, por que eu deveria pensar diferente? -Sei lá, eu gosto de ti também... -Ai, e eu quero tanto essa nudez c

Nunca foi fofa

         As fotos não mentem: ela havia sido um bebê fofo. Nossa, que menina graciosa e dotada de movimentos angelicais: bochechas convidativas, olhares espertos, trejeitos açucarados para qualquer estranho. Esboços de palavras proferidos com o melhor da meiguice infantil. Uma lady do berçário. Fofa! Sem mais. Quem viu, corrobora.          Porém, bastou uma passagem de tempo e lá se foi a fofura. Começava a era da obscuridade. A criança passou a falar com propriedade. E, falando, passou a presentear a família e os agregados com pérolas descabidas. Os pais imploravam por compaixão, para que fosse uma garotinha tímida como as outras. Que nada! A não fofa sabia que tinha uma missão a cumprir. Contava causos cabulosos em aniversários, piadas em casamentos, dava uns cascudos lendários nos primos menores - eternizados em filmagens dessas reuniões de parentes, aliás - fazia umas artes terríveis no quintal da sua infância e intrigava a todos com sua língua ferina, que, diga-se de passagem,

Barraco? No, thanks

        Acho curioso quando flagro alguma pessoa dizer em alto e bom som: "Bla bla bla, ai, não levo desaforo para casa" . Bom, acredito que "levar desaforo para casa" não seja o projeto de vida de ninguém nesse mundo - nem o meu - mas muito me impressiona o ar convencido que quase sempre sai junto de tais palavrinhas. Percebem? Para mim, é como se fosse uma declaração de amor indireta ao barraco - sonho de consumo dos que não conseguem ser notados por meios mais dignos.          Disse que acho curioso? Menti, gente. Acho é pobre de espírito; Acho decadente; Acho pernóstico. Quando presencio uma afirmação desse tipo, creio que seja possível me ver salivando de ódio, olhando fixamente para o ser humano genérico e carente de argumentos, autor da frase-escândalo. Desconfio que tal desprezo seja pelo fato de eu tentar, sempre que possível, avaliar fatos e circunstâncias de maneira fria e analítica. É aquela velha mania de ser sensata, sabem? Mas sei que a coisa é mais

Sobre "De repente é amor"

         Muitos diretores de comédias românticas não se dão conta de que precisam de pouquíssimo para entreter o público e, de quebra, fazê-lo acreditar em amores fulminantes e verdadeiros. Nadando contra essa maré de desavisados, Nigel Cole conseguiu fazer "De repente é amor", filme que, além de barato - obviamente, em se tratando de orçamentos hollywoodianos - envolve e faz rir, amparado por um roteiro que prima, brilhantemente, pela casualidade - item que mexe com os corações, desde que o mundo é mundo.          O mote da história é o encontro inusitado de Oliver Martin e Emily Friehl - respectivamente interpretados por Ashton Kutcher e Amanda Peet - que, em um voo de Los Angeles a Nova York, acabam tendo um envolvimento totalmente nonsense que irá uni-los sempre dali em diante. Claro, nosso casal de mutantes passa por muitos desencontros até se dar conta de que a ficada em pleno avião foi para valer: é curioso como os obstáculos que se opõem à consolidação da união não

Expectativa, sua criada

         Você convive com ela, desde que se conhece por gente. Penetrante e manipuladora, a tal corrompe suas noites de sono sem pestanejar: basta um segundo de distração e já levou sua paz. Às vezes, você tenta não entrar no seu joguinho, se fazer de difícil, continuar cuidadoso e fingir esperteza. Ledo engano, my dear ! Nesse momento, ela surge, triunfante, e anuncia ter tomado para si até sua alma. A denominação da cascavel? Expectativa, sua criada.           Expectativa! Expectativa! Expectativa!! Expectativa, como deve ser do conhecimento de todos, vem do vocábulo  espera . Eu espero, tu esperas, ele espera... esperamos pelo que, afinal? Por quem? Não se sabe ao certo, mas é fato que aguardamos, ansiosos, por algo que se perde no horizonte. Queremos essa coisa que insiste em escorrer pelas mãos, esse alguém, cujo endereço sumiu do mapa, essa manchete de jornal que não tem jeito de ser noticiada. Espera-se de maneira insana e doente. A expectativa está impregnada nas roupas, nos t

A liberdade e o Sete de Setembro

         A gente enche a boca para dizer que é livre, que exerce o livre arbítrio do jeito que bem entende e tal. Balela! Por gentileza, se existir no mundo alguém que faça só o que realmente quiser, me apresente. Longe de mim duvidar da palavra de algum romântico por aí, que acredita que é possível levar a essência das vontades ao pé da letra, mas não posso evitar o espanto, uma vez que a gente se importa, sim, muito com a opinião alheia ainda. Tem de ser dito e assumido: somos uma espécie de eternos serviçais, prontos a agradar a terceiros, nos lixando para o que queremos de verdade.          Parece muita pretensão eu querer falar por todo mundo, mas estou convicta de que se trata de um “mal” que acomete mó galera nas redondezas. Claro, não chega a deixar a geral prostrada numa cama, sem ter forças para nada, mas o fato é que incomoda, né? Confessem aí, que vivem pensando no que devem ou não fazer, em como devem ou não agir. Eu, ao menos, sou uns 68,23% assim. Gasto boa parte da vid

Nós, os humanos

         Nessa era obscura em que redes sociais nos intimam, de maneira irritante, a definir o que somos, o exercício da descrição chega a ser uma parábola para mim. Acho um saco essas tentativas de definição, além de preguiçosas e inúteis. Penso que a gente nunca é uma coisa só. Tentamos ser cúmplices de nós mesmos, mas muitas vezes ficamos reféns das circunstâncias. Escapamos, ilesos, ainda que meio desorientados, habitando um universo à parte, e torcendo por compreensão alheia. Somos pedaços, somos impressões, somos insuportáveis para quem não nos conhece - e mais ainda para quem nos acompanha desde sempre. Somos aquilo que, como diria a Marthinha da elite, ninguém vê.          Ainda que o fato de falar disso provoque meus olhares desconfiados, me sinto profundamente intrigada: trata-se de um grande mistério da humanidade, hein? Os dogmas da igreja católica ficariam no chinelo , se comparados com o que nós, os humanos, trazemos na cabeça, no coração, arraigado na vida toda, nas rel