Eu tinha uns dezesseis, eu acho. Dezesseis para dezessete. Falava com ele diretão, a gente trocava uma ideia legalzinha - legalzinha leia-se insípida - muito embora alguns diálogos fossem monólogos e quase nada tivéssemos em comum. Ele gostava de mim - e até que era bom ser gostada daquele jeito. Numa época de inseguranças latentes e desejo de autoafirmação, aquele sentimento era quase um sopro de vida. ''Gosto de ti de óculos'' , dizia o mancebo. Até que um dia, ele veio com uns papos estranhos. Ele tinha cara de quem gostava de namorar no domingo, assistindo Faustão no sofá da sala. Um arrepio correu minha espinha. Engoli a seco, blefei: - Legal aquela música que tocou no filme, né? Acho que era Ramones ... Não que eu quisesse ir nadar com as baleias do Ártico ou escalar o Everest em pleno domingo, mas ter me acenado com um pouquinho mais de aventura, de traquinagem na vida, teria sido determinante. Determinante para quê? Sei lá eu, cara-pálida. Mas