Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de novembro, 2013

Acho que era Ramones

Eu tinha uns dezesseis, eu acho. Dezesseis para dezessete. Falava com ele diretão, a gente trocava uma ideia legalzinha - legalzinha  leia-se insípida - muito embora alguns diálogos fossem monólogos e quase nada tivéssemos em comum. Ele gostava de mim - e até que era bom ser gostada daquele jeito. Numa época de inseguranças latentes e desejo de autoafirmação, aquele sentimento era quase um sopro de vida. ''Gosto de ti de óculos'' , dizia o mancebo.   Até que um dia, ele veio com uns papos estranhos. Ele tinha cara de quem gostava de namorar no domingo, assistindo Faustão no sofá da sala. Um arrepio correu minha espinha. Engoli a seco, blefei:   - Legal aquela música que tocou no filme, né? Acho que era Ramones ... Não que eu quisesse ir nadar com as baleias do Ártico ou escalar o Everest em pleno domingo, mas ter me acenado com um pouquinho mais de aventura, de traquinagem na vida, teria sido determinante. Determinante para quê? Sei lá eu, cara-pálida. Mas

Tipo o pão caindo com a parte da geleia para baixo

Tem coisas que são tipo o pão caindo no chão com a parte da geleia para baixo: se existe a possibilidade de ser sacal, vai ser sacal. Vizinho e música em um volume ensurdecedor, por exemplo. Não adianta: entra geração, sai geração, os vizinhos nunca vão escutar nada que você goste. Nem nada pelo que, ao menos, você tenha simpatia. Se é para passar pelo purgatório musical, que seja do jeito mais merda possível. O IBGE, nos seus famigerados censos, deve explicar isso. Eu nunca tive um único vizinho que comungasse do que eu amo ouvir. No geral, sempre fui acordada aos domingos com playlists do melhor do sertanejo da dor de corno. Não que o que eu escutasse não cantasse as dores de amor, mas a diferença entre um: - AQUELA DESGRAÇADA ME DEIXO O O O OUUUU... e um -  Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim, que  nada nesse mundo levará você de mim...   ... é de uma sutileza escandalizante. Tem diferença. Faz diferença no ouvido e faz na vida. No jeito de encarar o, vá lá, amor e

Hey, Lúcifer, vai tomar no cu

Pois eu, recém chegada de Saturno, acabo de saber que o peixão da vez no mar de aplicativos dos celulares-robôs, atualmente, atende pelo nome de Lulu . Sei lá eu por que caralhos, mas é. A mulherada está em polvorosa, atribuindo na internet notas a homens de sua lista pessoal de amigos - e com os quais eventualmente queiram ter um romance, ficada, pegada, lance, enfim. Vejam bem, embora tal começo soe machista, vou me defender dizendo que sempre fui a favor de que nós, mulheres, tenhamos plena liberdade para conduzir nossas vidas sexual e amorosa, e nos libertemos de ''velhas'' amarras. Eu falo, aqui, é da bizarrice desta onda de aplicativos para celular, que parece hipnotizar e emburrecer. Em tempo: tem alguém muito esperto ganhando milhões com a nossa insegurança de tatear no escuro, quando o assunto é amor. Pode até ser mau humor, como disse a Claudinha Tajes na Zero de sábado, mas talvez seja só o fato de eu ser pragmática demais - ao menos no referido campo. Cel

Sobre desejar igual à ucranianinha, conversar com gatos estranhos, um moreno de coração quente

Aqui, neste site, estamos começando a desenvolver poderes mediúnicos. Cara, em maio do ano passado, eu fiz uma postagem meio esquizofrênica, enumerando coisas que eu queria fazer, mas, sei lá, não sei se faria, mas estava a fim de fazer, mas, sei lá eu, não sei se faria, mas rolava uma ideia de fazer e tal. Ou não, não sei, talvez não rolasse nada, mas o fato é que havia uma vontadezinha e etc. Uma postagem pouco séria, como é do feitio do ser humano que vos escreve. Lá pelas tantas, eu dizia que queria adotar um gato e batizá-lo de Joseph Tribbiani - Joey pros íntimos. Lá vem ela com o gato de novo........  Ora bolas, mas é claro que eu venho com os gatos. A paixão por eles tem aumentado em progressão geométrica, é uma coisa assim... não sei explicar, é como se eu não conseguisse assimilar de onde vem tanto amor. Enfim, voltando ao post, é como se eu tivesse adivinhado que o Joey ia aparecer no meu caminho, é como se eu tivesse aberto meu coração e o chamado para perto de mim... ô

Sobre compromisso, sacrifícios em nome do amor, Bruna sendo vaca

Hoje, o dia é dos 124 anos da Proclamação da República, mas a noite é dos solteiros. Não, pera , viajei. Aqui, onde me encontro, cai uma chuvinha marota no momento - o que eu considero um convite à reflexão. Logo, convido vocês e o  Deodoro para uma prosa descompromissada. Descompromisso, mas que palavra fabulosa. Compromisso é o tipo de palavra que me apavora. É forte o embate interior, não me perguntem o porquê, já disse, um dia resolverei isso - ou não - com umas sessões de análise. Claro, para os rotuladores de plantão, não passarei, euzinha, de uma irresponsável, uma doidivanas, uma hippie. Mas eu acho que não é bem por aí, penso que a confissão não me descredibiliza muito, sabe. É que compromisso lembra contrato, que lembra cláusula, que lembra.... vixe, chega. Ninguém gosta de amarras, por mais que seja fã de um discursinho cheio de protocolos, enquanto tenta elevar seu marketing pessoal. É claro que, querendo ou não, acabamos criando vínculos, compromissos, rotinas, um contra

Nem todos querem propaganda de margarina

Dia desses (tipo, ontem), encontrei, por acaso, um cara que foi meu coleguxo nos tempos dos gloriosos -  porém ao contrário - anos de ensino fundamental. Ele empurrava um carrinho de bebê. Com um bebê dentro, por supuesto . Ele não me reconheceu, creio eu, mas eu o reconheci - não esqueço facilmente um rosto, eu poderia ganhar facinho uns trocados desenhando retratos falados. Mas, enfim, fiquei pensando com meus botões. Seria a criança filha dele? Possivelmente. Grande parte da galera que jogou bola comigo na rua, já juntou as escovinhas de dentes e tratou de procriar. Há uns anos, isso me assustava, quer dizer, assumir um compromisso patriarcal com vinte e poucos anos por pressão de sei lá quem me parecia insanidade. E eu chegava a fazer comentários radicais a respeito. Hoje, no entanto, tenho olhos mais tolerantes em relação à pauta. Tolerantes, ok, mas não menos intrigados. Eu ainda me pego pensando no porquê de a ideia genérica de casamento - ou, vá lá, união sem assinar papel - c

Quando um jornal sobre coxas fala por ti

Se me permitem, hoje, vou nostalgicar . E inventar um neologismo, que o momento pede - e eu tenho crédito com o Pasquale. Eu ando remexendo gavetas. Gavetas, gente, gavetas! É sempre um mundo à parte, vocês hão de convir comigo. Nem sei bem o sentimento que me invade, só sei que eu precisava divagar sobre. Ah, tem isso também: eu ando divaguenta (digo, dois neologismos). Não que eu não seja divaguenta desde sempre - só o fato de a pessoa se prestar a atualizar um blog fodido simpático com regularidade professoral, já pressupõe que o ser humano é fã duma conversa fiada - mas, nos últimos tempos, eu chego a estar piegas. Ternuras estranhas têm escorrido do meu coraçãozinho quando divago sobre a minha vidinha. Acho que foram as gavetas, essas sabidas. Porque a gaveta sabe do nosso passado, ela fica, ali, à espreita, esperando nossa volta. E a gente sempre volta - nem que seja para procurar um boleto vencido, uma prova perdida de faculdade, um gosto ou uma sensação. Ela sabe dos vacilos