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Mostrando postagens de maio, 2012

Vou pra onde, José?

Vou dormir a tarde inteira. Vou à padaria da esquina comprar um pedaço daquela torta de chocolate que piscou pra mim na última quinta. Vou comprar uma jaqueta de couro e estourar o limite desse cartão de crédito filho-da-mãe. Vou embora pra nunca mais voltar. Vou ficar e nenhuma dúvida deixar. Vou aproveitar um dos meus desenhos de roupa esquecidos nos anos 2000 e customizar, finalmente, aquela  bendita  saia.  Vou agarrar aquele idiota pelo pescoço e encher de beijos, antes mesmo de ele vir me cumprimentar com mais um "oi" burocrático e comportado. Vou escutar boleros do Luis Miguel e me lavar chorando pra ver se essa dor crônica de amor passa. Vou gritar na janela do apartamento que na próxima quarta-feira eu vou encher a cara e vai ser com vodka. Vou reler o livro do Tony Bellotto e tentar imaginar cenas menos safadas e mais românticas. Vou baixar a discografia do Sublime. Vou semear a discórdia e dizer pra vizinha que cansei dos barracos dela e do seu cônguje. Vou lav

O cara - um certo revanchismo

Palavras gentis em homenagem ao “cara” parecem nunca ser o bastante, pois se tem algo que ele domina nessa vida é a arte de enlouquecer o sexo oposto. Ele faz isso sem querer, talvez nem desconfie da ebulição hormonal que provoca no corpo das pobres jovens incautas espalhadas pela cidade, à procura do amor, sedentas por beijos honestos e quentes. Ou talvez saiba, uma vez que é, de fato, o cara. Eis um mistério da vida que nunca será desvendado – muito menos por mim, mera observadora desse tal dínamo do amor. O cara manja, é incrível seu talento para desarrumar toda uma vida, toda uma sequência de dias aparentemente normais e pacatos. Manja como um velho andarilho que já aniquilou milhões de promessas de conto de fadas com um perfume que penetra pelo poro mais escondido da pele e se instala no neurônio mais teimoso. Manja como um legítimo conhecedor das fraquezas femininas, embebidas por noites mal dormidas, sonhos despedaçados, decepções latentes, quase amores que dobram a esquina,

Sobre certezas e cacholas

           Estava eu, bem bela, lendo uma crônica da Martha - aquele ser adorável - quando me dei por conta de que há anos-luz , tenho escrito erroneamente uma certa palavra. Justo eu que sou uma chata com tudo que escrevo, parecendo um xerifezinho nerd da escrita, justo eu???????? Pois é, cuidado nem sempre se converte em isenção ao erro. Ando errando. E errando lindamente. Vamos aos fatos e ao mea-culpa habitual. Vocês sabem, se não tiver mea-culpa, não é agridoce.             Lá pelas tantas da minha leitura, Marthinha falou em "cachola", e, com toda certeza, fazia menção a isso que trazemos grudado em nossos pescoços. "Cabeça", concluí, atônita. Opa, como assim "cachola"? Cachola é cabeça então? Mas não era "caixola"? Não, cara afobadinha, isso é uma caixa pequena. Cabeças sempre foram cacholas. Caixinhas sempre foram caixolas. E você... bem, você sempre pensou errado a respeito. Que coisa, não? Tirando esse meu erro ingênuo e bem intenciona

Um furo no coração da pamonha

Pois dia desses, estava eu caminhando pela rua, bem despreocupada, exalando minhas impressões agridoces pela cidade, quando de repente, notei uma movimentação estranha um pouco diante de mim. Em seguida, vi duas viaturas da polícia passarem simultaneamente. Alerta ligado! Isso bastou para aguçar minha imaginação fértil, já fiquei imaginando mil coisas, e me botei a pensar: imaginem agora um furo jornalístico daqueles? “Jornalista novata é a única a ter informações sobre a empreitada policial, pois estava de tocaia atrás da moita”. Lindo furo que nunca se concretizou,   game over .   O fato é que com todos esses artefatos tecnológicos, qualquer um pode vir a ser jornalista por um dia. Por uns vários dias, por que não? Na sinopse acima – caso se configurasse um acontecimento bombástico digno de manchetes e o escambau – se bobear, algum vizinho do Seu Zé da padaria já teria filmado tudo, postado no Youtube e toda aquela coisa. A sobrinha de 7 anos da criatura, no alto de seu conhecimen

Minha buarquice

O amor é demais, é resistente, é meio incompreesível e teimoso, mas o fato é que às vezes deixa respirar. Dá um tempo. Excursiona por outras bandas, joga charme para outros acordes, flerta com outros ritmos. Porém, sempre volta. Volta maior, volta mais ferido e cheio de histórias, mas volta. É dele o pedaço mais feroz e perturbador, mais covarde e misterioso, mais humano e irremediavelmente torto. É simplesmente amor.            Faz tempo que Chico Buarque rouba minha paz. Desde que escutei “Futuros Amantes”, nos idos de sei lá qual ano, comecei a prestar atenção nesse moço dos olhos cor de ardósia mais cristalinos da MPB. Até, aqui, cabe um adendo: duvido muito que você tenha um coração batendo dentro do peito, caso não se comova com referida canção . “Não se afobe não, que nada é pra já, amores serão sempre amáveis... futuros amantes, quiçá, se amarão sem saber com o amor que um dia deixei pra você..”   Pois é, pedrinha de gelo que me lê no momento, o moço escreveu isso aí. Quan