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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Sobre inveja e os professores de amor-próprio

Penso que a inveja sempre existiu. E, por mais indigno que seja, todos - eu disse todos - já experimentaram o seu amargo na boca. O que não quer dizer, entretanto, que mereçamos arder numa fogueira. Menos, né, galera? Tenhamos sagacidade para lidar com os sentimentos negativos, eles aparecem às vezes, é da vida. Eu, por exemplo, sempre vou invejar o cabelo da Rachel Green . Sempre, não dá para evitar, cada vez que ela aparece, com aqueles fios milimetricamente obedientes e sedosos, eu sinto vontade de me esconder. Mas daí a sentir pena de mim e do meu cabelo - que pode não ser de comercial, mas é bem simpático - existe uma distância oceânica. É um exemplo bobo, mas vem ao encontro do que defendo: transmutar o sentimento em algo benéfico ou que, ao menos, mude alguma postura, um hábito, uma percepção. Ninguém está imune a sensações pouco gloriosas como a citada, mas todos podem escolher o que fazer com elas, não? É tudo culpa dessa grama do vizinho que insiste em ser mais verde, vez que

Putz, pior que eu adoro Wave

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim cantou milhares de vezes que ''é impossível ser feliz sozinho'' , mas se esqueceu de mencionar que a gente pode dar boas risadas sem ninguém. É, eu sei que o texto que se desenha é uma piada pronta - daquelas que algum casal miguxo por aí, com perfil compartilhado em rede social, talvez vá ler e comentar em voz baixa: ''pobre menina sem amor, né, benhê?'' . Daí, quem sabe, eles postam uma selfie tomando sorvete e encerram o dia, desejando boa noite com algum salmo. O amor é creyço e lindo, sabemos. E eu é que sou uma invejosa. Eu não sei quando foi que o amor foi institucionalizado, mas sei que é realmente um fardo. A união de duas pessoas é vista como sinal de maturidade, de credibilidade, quiçá até de bom caráter. Não tô praguejando os casais, queridos, apenas convidando-os a emprestar um olhar mais crítico à temática. Pobre de quem não quer se prender a ninguém, não quer namorar, não se sente desesperado p

Sinfonia escrota no asfalto

Em meados de 2009 - que foi quando consolidei minha incursão à crônica - escrevi uns desaforos ótimos sobre a piazada que pega o carro do papai sem carteira de habilitação, para pagar de bonzão ao seu eleitorado - sim, todo babaca tem uma legião fiel de seguidores, não se engane. Não sei onde caralhos enfiei essa crônica, mas o sentimento que me incitou a escrevê-la... ah, este segue enfiado como uma estaca no meu coraçãozinho. Porque é um nojo tão grande, mas tão vivo, que não poderia se converter em nada mais que um texto maravilhoso. Pois volto agora, em 2014, para falar de velocidade - item que geralmente (eu disse ge-ral-men-te) vem associado à temática anterior. Eu, ao menos, já cansei de ver garotos cantando pneu por aí e depois saindo adoidados, ávidos por verem os velocímetros de seus carangos arrebentarem. Bom, que arrebentem, mas bem longe do meu portão. Não é de hoje que eu condeno essa atitude dos rapazes (falo essencialmente nos rapazes aqui, mas casos lamentáveis como

Lindinho, porém babaca

Caio Castro - felizmente não somos parentes, dado o sobrenome - evidentemente vem povoando, há tempos, os sonhos mais indecentes das moçoilas deste Brasilzão. O guri está em todas. É um comedor nato. Um garanhão. Ninguém deve resistir aos seus encantos, suponho - nem mesmo a raivosa blogueira que vos escreve e ensaia um texto de repúdio ao que o lindinho andou falando recentemente em uma entrevista. Bom, para ser franca, tive que ir catar o vídeo, pois não assisti ao desfile de pérolas proferidas por ele quando esta passou. Mas sinto informar que já é algo que a gente espera, não é de hoje que ele se sai com afirmações desconcertantes. Na última, encheu a boca para dizer que não se sente ''apetecido'' pelo tal teatro - sim, essa ''reles'' expressão artística em que já brilharam nomes como Paulo Autran, Cacilda Becker, Augusto Boal, entre uma e outra gentinha aí sem projeção. Por que iria ele, um dínamo da televisão, requisitadíssimo para campanhas publi

Gosto de gente que brilha secretamente sem plateia

Gosto de gente pouco óbvia. Gosto de quem chora na frente dos outros, de quem não se economiza, de quem se descabela e não liga se saiu horrível na foto. Gosto de gente louca, instável, imprevisível, irônica, sarcástica. Gosto de mal educados bem intencionados, nossa, como eu gosto. Gosto de gente ventania mais que de gente sol com pancadinhas de chuva. Gosto de gente que luta por causas perdidas mais que de gente que quer passar em concurso aos 18 anos de idade para se garantir na vida . Gosto dos críticos, dos que mandam os protocolos gentilmente à puta que pariu. Gosto de gente Woodstock mais que de gente Planeta Atlântida . Gosto de gente Marighella mais que de gente Eike Batista. Gosto de gente que tosa o cabelo, de gente que considera uma camiseta, um jeans e um All Star o luxo supremo. Gosto dos cabeludos - mas isso nem precisava falar. Gosto dos que tentam realizar os fatídicos sonhos e se fodem. Gosto dos que tentam mais um pouco. Gosto dos teimosos. Gosto de gente que arrisc

Como diria Chicó, ''só sei que foi assim''

Se é que eu tenho propriedade para afirmar algo sobre minha pessoa, eu diria que sou extremamente observadora. Irremediavelmente observadora. Não saberia, a propósito, dizer se é um defeito ou uma qualidade, dadas algumas circunstâncias em que já me encontrei nesta vidinha severina. Como diria o folclórico Chicó , ''só sei que foi assim''. Foi assim e vem sendo assim, desde que eu me entendo por gente. Mas que nada, meu caro, não me olhe com essa cara de ''ó essa fulana narcisista se autointitulando isso ou aquilo'', ser observador não quer dizer grande coisa. Só significa, penso eu, carregar um potencial malístico ilimitado. Eu carrego e pareço fazer jus, que remédio... Mesmo em meio a um turbilhão de vozes ecoando em meus ouvidos e pessoas passeando entre mim em afazeres diversos, é possível me encontrar, caso haja algo que me roubou a atenção, perdida num recanto especialmente meu. Eu, ali, sou incorruptível, ninguém me ganha. Se eu decidi que mer

Verão invencível

Taquem suas pedras, mas eu gosto de verão. Ah, sabe, eu curto, eu jogo charme, eu não me aguento. É claro que eu não gosto de sair do banho, gotejando suor. É claro que eu não gosto de virar ração para as mais diversas espécies de insetos. É claro também que é tarefa indigesta colocar o pé na rua, se não é para se jogar logo depois dentro de uma piscininha marota. Mas, ah, eu ainda gosto do verão. Eu flerto descaradamente com ele. Taquem suas pedras, mas, primeiro, me deixem poetizar o inferninho. Acho que toda estação tem sua poesia. Talvez o verão seja uma prosa, uma brisa, um sonho bom. Eu gosto dessa malícia no ar, dessa impressão de que tudo pode acontecer. E, às vezes, acontece. Eu gosto das praças cheias de gente tomando sorvete. Eu gosto do banho de chuva tão esperado e que vem com ares de redenção. Eu gosto do beijo praiano queimando o coração. Tem isso também: os beijos parecem ter mais sabor. Mistério... Gosto dessa coisa de andar com pouca roupa, nada de casacos burocráti