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Mostrando postagens de março, 2013

Quinquilharias

às vezes reveses revi o verão teu chão  e a maresia ondeando meu coração onde anda tua solidão? dizia na porta: eu te espero mas não era sério um poema etéreo ousou chamar quer que eu grite? desquite lunar brigou com a lua ficou na rua dizia na porta: era só retornar eu não escrevo poemas poetizo dilemas escuto ventos fortes que me despenteiam que me enfrentam que, assim, se assentam eu não escrevo poemas domo letras e rimas vejo-as no cinema canto e exalto-as de cima eu não escrevo poemas venço as palavras chagas, adagas, minha sina

Soneto de humilhação

A toda razão da minha dor de corno serei atenta  Só não vou mais mendigar teu amor, otário Porém, não sei se consigo tirar tuas roupas do armário E me desfazer das tuas balas de menta Eu me humilho, porque é tua minha raiva mais sedenta E em teu louvor continuarei a comemorar aquele dia do calendário  E rirei de  desespero desse meu amor solitário Enquanto eu não desistir de ser patética e birrenta  E, assim, farei uma novena para que volte contente Quem sabe a minha vida dessa obsessão se livre Quem sabe, através da solidão, tão solícita comparsa Eu possa ouvir do amor que nunca tive: Que não seja imortal, posto que foi farsa Mas que seja infinito até que minha dignidade aguente                                

Bons tempos

''Até tou começando a crer que quem ama precisa sair colando cartazes desse amor nas paredes realmente."  ''Até tou começando a crer que quem ama precisa sair colando cartazes desse amor nas paredes realmente."  Como boa blogueira pernóstica, faço reflexões de minhas próprias reflexões. Tem dias em que eu me levo a sério demais, e hoje é um deles. Quanto de verdade tem na assertiva acima? Fiquei pensando sobre, pois o fato é que, hoje em dia, há certa necessidade de se fazer ouvir. Vivemos uma era de urgência, em que só tem verdade o que é gritado, esfregado na cara, marcado na pele.  Parece que intensidade não combina com silêncio. E lá vamos fazer coro à agonia de falar, falar, falar. Falar e ser mal interpretado. Falar e não ser escutado. Falar como se estivesse dopado.  Os discretos riem, pois amam, sentem e falam em silêncio - talvez bem mais que nós. Só ama quem diz todo santo dia que ama? Só é feliz quem escancara fotos sorrindo a cada atualização d

O filmólatra

Há males que vêm para o bem, cêis sabem. Numa dessas pegadinhas da vida, eu acabei vendo que é verídico. O ano era 2008 e eu me consumia de paixão por um cara. Ficava tão petrificada perto dele, que demorei um mês para conseguir dizer um singelo ''oi''. Quando isso aconteceu, eu quase tropecei na frente dele, lógico. E não sorri, pois - segundo pesquisas apontam - quando você tá caídaça pelo cara, parece que até os postes de luz sabem, então é melhor fazer a discreta. Toda vez que aquele par de coxas universitárias e imorais passava por mim, um pouco do meu coração era moído numa daquelas máquinas típicas de açougue. Ele era virginiano. A história já começa fadada ao fracasso aí, pois, como bem disse a Amanda Costa, tais criaturinhas do elemento terra não apetecem seres de juba. Corroboro a tese, nunca me apeteceram. Mistérios astrais que voam longe, que você nunca não sabe nunca... ...se vão se ficam quem vai quem foi Bom, mas um dia, eu tive a chance de conv

Sobre mané, livro do Tony, Caras

A crônica é o meu chão, o gênero que me provoca e que faz - creio - eu me expressar de forma menos medíocre. E os observadores terão notado que elas diminuíram de tamanho. Diminuíram, porque sim. Chega de redaçãozinha babaca de vestibular aqui. Antigamente (ano passado), eu ficava obcecada em desenvolver textos com métricas disciplinadas e argumentos convincentes distribuídos em linhas previamente arquitetadas. Digamos que isso conferiria certa credibilidade a mim - pensava eu. Só que eu esqueci que eu não sou digna de crédito nenhum, o meu papel, aqui e na rua, é ser mané. E disso eu entendo. Não quero mais fazer sentido desse jeito. Quero fazer sentido, mas escrevendo o que eu quiser. Espero que role essa história de   ser mané, e ainda ter prestígio nessa vida. Vamos aguardar. Pois contei para vossas senhorias que acabei de ler o livro do Bellotto ? Seguinte: em meados de 2011, adquiri o tal "No Buraco", lançado em 2010 - uma espécie de narrativa às avessas de sua bem su

Esparadrapos

Esparadrapos, sabe? Esparadrapos, somos esparadrapos ambulantes. Muitos, milhões, incontáveis na infinidade de serem consolo e serem consolados. Eu já vi que é assim, que remédio. Poucos são os que têm a sorte de ganhar um amor da vida, alheio a vivências já comungadas e ferimentos passados. Poucos são, será que existem? Se existem, se escondem bem. Se existem, eu quero pra mim. Todos querem, poucos conseguem. E, assim, lá vamos nós servir de esparadrapo para os corações que encontramos no caminho, que, por sua vez, nos brindarão com esparadrapos igualmente solícitos para nossas dores crônicas de amor. Com sorte, claro. Em 87,13% dos casos - tal qual diz o já mencionado IBGE - o sofrimento é sozinho mesmo, que é pra coisa ser mais visceral. É tipo aquela clássica drummondiana - que até já parodiei aqui - que conta a história do João (ôôô, João!), que amava a Tereza, que amava o Raimundo, que blá blá blá e etc, todo mundo infeliz no fim. A sensação que dá é que cê tá sempre atrasado

Da série: diálogos agridoces

LITERATURA CLICHÊ E BABADO - Como nunca te vi aqui, guria? - Ah, eu tô sempre aqui...  hum.. er, e tu tão interessante... não me diz que é do babado... sim? - Sou quase uma advogada, gata! (aff, sabia) E tu faz o quê? - Sou jornalista. - Ah é? Mas com diploma, né, baby? (risos) - Mas é ca-la-ro, querido. (mais risos) - Ui, jornalista, pois quero ver se tu manja de literatura. Aliás, tu tem blog? - Quem não tem blog? Eu sou um clichê ambulante, meu filho. Tenho blog, quero mudar o mundo e ganho mal. Ai, essa música é boa, escuta... - Boa, mas tão 2008, né... (risos) 1 HORA DEPOIS - Anda, me fala já. Literatura russa, já leu? - What ? Quê? Cuma? - Recita algum autor, quero ver se tu sabe... (risos) - Olha, já dei uma olhada em Dostoiévski, Noites Brancas, Irmãos Karamazov , não lembro bem... não é dos meus preferidos, só dei umas folheadinhas .  - Então me fala de Borges ! - O argentino? - Esse. Recita algo dele. - Nunca li.

Todavia creio que nunca

Lá estavam os olhos mais doces do universo, mas não. Sabe, eu discordo da maioria do mulherio que afirma que a noite não serve para conhecer homem. Discordo, porque, vez que outra, eu topo com uns tipos ótimos. Claro, não é justo se apaixonar em toda santa sexta-feira, mas... mas com uma ajudazinha das estatísticas do IBGE – Instituto da Balada Goethiana Escrota - lá tô eu com vontade de morder... morder, você sabe o quê. É de bater o olho e gostar num lapso de segundo que agrupou todas as minhas carências e fraquezas, projetando-as num cara que parece que eu conheço faz uns mil anos. Mas eu não conheço. E talvez nem vá conhecer, porque eu queria mesmo era pular aquele capítulo de não saber o que fazer com a minha timidez, minhas mãos e meus olhos, aquele capítulo em que eu volto a ter 13 anos e agir como uma retardada sentimental – que, de fato, sou. Pular tudo isso, porque é deveras uma chatice – e um mal necessário, oh myyyyy ! Pular essas páginas e já ir direto pro momento

Por que amo aquele livro?

Eu tinha 14 anos e nada pra fazer. E numa manhã de aula cabulada da oitava série, me caiu às mãos, um Jean Valjean ferido pela sociedade e toda aquela história que acabou de ir aos cinemas. "Os Miseráveis" foi o primeiro livro que, de fato, li - aliás, não leio em francês (dãr), o que foi folheado por mim, durante alguns dias, foi uma adaptação muy digna, escrita pelo noveleiro Walcyr Carrasco - fato que, creio eu, não desprestigia o ato em questão. Enfim, mesmo sem ter noção nenhuma de romantismo francês (um pouco da efervescência francesa do século XIX, eu tinha, vá lá), caí de joelhos perante a humanidade contida naqueles parágrafos. Fui arrebatada para todo o sempre. O líder tenentista Prestes disse, certa vez, que sua concepção de ''mundo'' foi abalada quando entrou em contato com o tal capital, do Marx . Pois a minha, indiscutivelmente, foi mudada através da saga dos miseráveis sonhadores. Acho que foi ali que vi que gente é gente em qualquer lugar d