Eu já queria falar sobre isso há um bom tempo, e, enquanto não criar vergonha nessa cara e entrar num mestrado para matar minha curiosidade de por que caralhos as pessoas dão audiência para pessoas tão bizarras e nada a ver, a gente vai ter que escrever sobre isso aqui. Quando eu falo ''a gente'', me refiro a mim e às vozes que habitam minha cabeça, tá, queridos?
Youtubers... youtubers... sim, Bruna, está acontecendo e faz tempo. Que desgraça essa gente! Ó, pai, por que me abandonaste? Quanto tempo eu dormi? Estamos vivendo uma era de espetacularização tão idiota, mas tão idiota que me faltam palavras, é sério, eu só consigo sentir - como diria o fatídico meme. Não tem a mínima condição de manter a sanidade mental, querendo estudar, trabalhar, evoluir quando pegar uma câmera, do celular mesmo, sair falando um monte de merda e enriquecer com isso ficou tão fácil. Vamos usar um case bem ridículo aqui? Vamos.
Dia desses, esta comunicóloga que vos fala, fazendo suas comprinhas no mercado, deu de cara com Felipe Neto. Sim, aquele revoltado que, há uns anos, esbravejou contra os ídolos teens de sua época e disse que eles não amavam ninguém, que aquele papo de ''Família Fiuk'', por exemplo, era uma piada. Ele mesmo ilustrando a capa de uma revista Atrevida na gôndola do super. Felipinho, você se tornou quem mais detestava. Este rico ser, atualmente, a cada milhão de inscritos conseguido (sabe-se lá COMO) em seu próspero canal no Youtube (sabe-se lá COMO) pinta o cabelo de cores variadas e chama seu séquito de bobalhões - em sua maioria crianças, não vamos nos enganar - de família. Eu também já fui imbecil adolescente, já comprei Caprichos e afins, mas, sabe? Não tem como não dar um desgosto no ser humano. Essa gente é o quê? É artista? O que fazem de bom afinal? Transcendem algo? A família Felipe Neto não vai deixar barato, eu sei, desculpem-me por atacá-lo.
Na verdade, estou nem aí para essa criatura, não sigo, não dou audiência, acho um completo idiota, mas como divagação antropológica ele é um achado. Ainda sinto o gosto do niilismo no caixa, pagando meus pés de alface, e tendo que encarar esta criatura horripilante de cabelo roxo. Ali, a proletária chorou por dentro. Estaremos fadados a sermos quem mais abominamos um dia? Felipe Neto é o Fiuk dessa geração de crianças, será que ele sabe? Será que eu, após tirar tanto sarro dessa confraria de toscos, me juntarei à manada? Afinal, bobagem por bobagem, eu também tenho umas ótimas para dividir com sei lá quem queira ver uma pateta discursando a esmo... fazer vídeos é o ópio da nossa modernidade. Facinho, facinho, virei figura pública, se inscrevam no meu canal, amanhã vou dar uma cagada ao vivo. O processo escatológico transcendental e criativo que só uma cagada proporciona, não percam.
Claro, claro, isso é entretenimento moderno, só trouxas se descabelam por causa disso. E jornalistas, claro, que raça maldita. O jornalista, esse coitado, ele quer entender a humanidade e suas conexões. Pobre alma incompreendida. Ele quer saber o porquê de o Youtube ter virado a plataforma idiotizante que virou. Ele quer entender o fenômeno midiático, esse asno com grife. Ele não se conforma com o pão e circo, que, hoje em dia, virou pão com cheddar e lascas gourmet de angus e circo on demand na sala da sua casa. Que tempos.
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