Quem ele queria no comecinho? Mas bem no comecinho? Hum, não era eu... era a minha amiga. Hum, era a cunhada da prima da melhor amiga de sei lá eu quem, acontece. A gente nunca sabe que tipo de carência está preenchendo, que tipo de vivência está querendo abraçar, que pessoa está idealizando. Quem é você? O que quer de mim afinal?
Já devo ter escrito isso nestes anos de labuta incansável - previsível que sou - porque segue me atormentando: essa conexão de amores e quase-amores é uma selva de esparadrapos ambulantes. Sim, prazer, os esparadrapos ambulantes somos nós, sendo usados para curar sabe-se lá quais dores. De repente até rola, que sei eu das ideias que vocês cultivam sobre amor e resiliência emocional, não é mesmo? Mas por outro lado... hum, que ideia bem problemática. Nada como um amor novo para esquecer um velho - eles dizem. Jura mesmo? Pessoas tapando buracos que elas sequer fizeram? Ok, então. Beijos à vontade, olhos fechados para não ver o caos, almas em pedaços, toques mentirosos.
Não, não é bem sobre castidade que falo - e se vocês entenderam isso, voltemos às aulas de interpretação com urgência -, mas, sim, sobre se responsabilizar pelas próprias vontades. Ser responsável pelo tipo de sentimento que pode estar despertando por puro capricho, por pura vaidade. É tão errado assim ficar sozinho? Apreciar a própria companhia não é bem sobre solidão.
Eu sei, não somos mais crianças e já temos uma coleção de adagas lacerando o peito... ah, a passagem dos anos... a cada aniversário, mais velhos e mais cínicos. Cinismo a essa altura do campeonato é até poético. Será isso o máximo que merecemos? Amores pela metade? Pessoas que até estão com nós, mas na verdade estão vivendo no ano passado? Talvez seja uma egotrip desgraçada, não sei, estou na cordinha-linha-tênue-bamba entre amor-próprio e fé cega no melhor do meu coração, mas me recuso a acreditar que só sirvo - servimos - para aplacar meros sofrimentos. Eu quero nem que seja um sofrimento novo, nada de restos. Sai do meu colo, filhão. Feridas só fecham se paramos de cutucá-las, se deixamos-as sozinhas para doerem o que têm de doer. Melhor ainda, inclusive, se não envolvermos terceiros na jornada pedregosa de regeneração - porque, sim, eu acredito ser possível. Se não acreditarmos... pobres de nós.
Auxiliou no post:
Disfarça e chora - Cartola
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