Terminei, há uns dias meses, o último livro da ótima Tati Bernardi, aquela moça que meio mundo ama incluir em suas selfies, muito embora a maioria daquelas frases toscas não sejam de autoria da roteirista - palavras da mesma. Pois Tati, que fez de seu transtorno psicológico matéria-prima para muitas de suas genialidades, me fez rir quase convulsionada com o hilariante - porém não menos denso - Depois a louca sou eu. Eu simplesmente cheguei ao cúmulo de parar a leitura e, entre risos histéricos, repetir para mim mesma: ''ela não pode ter escrito issoooooooo''. Pois não é que escreveu? E escreveu muito bem (putaquepariu, um texto bem escrito é a minha Disney!!!). É um tom confessional delicioso e intimista, é quase como se eu quisesse abraçar Tatiane e dizer que também já estive ali - estaremos sempre algumas vezes na vida porque esses dilemas psicológicos são dificílimos de desgrudar. Talvez não desgrudem nunca.
Foi um deleite ver a escritora revelar seus piores dramas - por mais insensível que isso pareça - em forma de pequenos devaneios carregados de sutileza ímpar. Eis uma conclusão a que cheguei: ou você nasce escrevendo bem ou não escreve. Ou você carrega essa inquietação genuína na alma ou não carrega. Ou você deixa as palavras irem casando, se completando, fazendo sentido e doendo em você ou não deixa. Isso não se aprende, não existe curso que ensine. Ou está ali incomodando e pedindo para virar arte ou não está. Tati, que já detestei por conta das abobrinhas que jura não ter escrito (coitada, se ela ler o Pensador, vai ter uma síncope com as pérolas), me fez sua irmã, me fez sua confidente. E, incondicionalmente, admiradora ao ver que tudo está ali somatizado nela. Os nossos corpos doem demais.
O drama de se descobrir, muito nova, uma criança ansiosa e ter sofrido com a falta de tato dos adultos para perceberem isso - tão ocupados sendo adultos. O medo de ser ela mesma, o medo de sentir medo, o medo que paralisa os amores e as relações, o medo de aeroportos, o medo de conviver com gente má - e boa demais, o medo de pegar avião, o medo de parar de fazer sentido, o medo de vomitar, o medo de não ter controle sobre si mesma, o medo de se ausentar de casa, o medo do exagero, o medo de doer algo que não se sabe o que é, o medo de não ter aproveitado o suficiente, o medo de viver, o medo de morrer, o medo de ser irremediavelmente humana e toda a sorte de acontecimentos que isso traz - tudo, tudo se aninha ali com muita humanidade. Estamos ferrados. Poeticamente ferrados, fellas. Bonitinho, né... mas que gastura. Viver dá gastura.
Em suma, é um livro gostosíssimo - principalmente para quem enfrenta a dor e a delícia de ser um ansioso crônico -, pois ela narra variadas circunstâncias inerentes a nós (vocês já sacaram que somos uma seita, né?) com uma sensibilidade adorável e um humor cirúrgico. Eu, que amo um sarcasmo bem feito, fiquei maravilhada. Eu, que amo ler gente talentosa, fiquei inspiradíssima. Eu, que me vi retratadíssima naquelas páginas, cheguei até a ficar melancólica em alguns momentos, mas nada que tenha me feito desistir da leitura, afinal, estamos falando do meu mais novo vício literário da crônica brasileira. Vida longa, sua debochada. Su deboche es mi deboche.
Auxiliou no post:
I'm think I'm paranoid - Garbage
Foi um deleite ver a escritora revelar seus piores dramas - por mais insensível que isso pareça - em forma de pequenos devaneios carregados de sutileza ímpar. Eis uma conclusão a que cheguei: ou você nasce escrevendo bem ou não escreve. Ou você carrega essa inquietação genuína na alma ou não carrega. Ou você deixa as palavras irem casando, se completando, fazendo sentido e doendo em você ou não deixa. Isso não se aprende, não existe curso que ensine. Ou está ali incomodando e pedindo para virar arte ou não está. Tati, que já detestei por conta das abobrinhas que jura não ter escrito (coitada, se ela ler o Pensador, vai ter uma síncope com as pérolas), me fez sua irmã, me fez sua confidente. E, incondicionalmente, admiradora ao ver que tudo está ali somatizado nela. Os nossos corpos doem demais.
O drama de se descobrir, muito nova, uma criança ansiosa e ter sofrido com a falta de tato dos adultos para perceberem isso - tão ocupados sendo adultos. O medo de ser ela mesma, o medo de sentir medo, o medo que paralisa os amores e as relações, o medo de aeroportos, o medo de conviver com gente má - e boa demais, o medo de pegar avião, o medo de parar de fazer sentido, o medo de vomitar, o medo de não ter controle sobre si mesma, o medo de se ausentar de casa, o medo do exagero, o medo de doer algo que não se sabe o que é, o medo de não ter aproveitado o suficiente, o medo de viver, o medo de morrer, o medo de ser irremediavelmente humana e toda a sorte de acontecimentos que isso traz - tudo, tudo se aninha ali com muita humanidade. Estamos ferrados. Poeticamente ferrados, fellas. Bonitinho, né... mas que gastura. Viver dá gastura.
Em suma, é um livro gostosíssimo - principalmente para quem enfrenta a dor e a delícia de ser um ansioso crônico -, pois ela narra variadas circunstâncias inerentes a nós (vocês já sacaram que somos uma seita, né?) com uma sensibilidade adorável e um humor cirúrgico. Eu, que amo um sarcasmo bem feito, fiquei maravilhada. Eu, que amo ler gente talentosa, fiquei inspiradíssima. Eu, que me vi retratadíssima naquelas páginas, cheguei até a ficar melancólica em alguns momentos, mas nada que tenha me feito desistir da leitura, afinal, estamos falando do meu mais novo vício literário da crônica brasileira. Vida longa, sua debochada. Su deboche es mi deboche.
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I'm think I'm paranoid - Garbage
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