E eu que comecei o dia ouvindo I touch myself, do Divinyls? Tenho uma relação bizarra com essa música, escutei no rádio uma vez quando era novinha e fiquei possuída pelo ritmo ragatanga. MINHA MÚSICAAAAAAAAA, NINGUÉM SAI
Aí, anos mais tarde, vi ela ser tocada - perdão pelo trocadilho involuntário - na entrada triunfal de uma formanda numa colação de grau que prestigiei - estafada, claro, porque todas as colações são, sem exceção, estafantes. Não tive dúvidas: seria minha entrada triunfal idem quando chegasse o momento. Num janeiro de calor escaldante, lá fui eu desfilar de toga com Divinyls, sem querer, erotizando o ambiente. Percebam o ridículo semiótico da situação. Até então, esta mente casta que vos fala não tinha ideia do que tratava a música, muito embora as pistas estivessem todas ali gritando. Ri loucamente quando me liguei - a perdida do Direito que me inspirou deve ter tido a mesma experiência, convenhamos. Enquanto meus colegas curtiam seu momento único e ególatra com musiquinhas que falavam de superação, resiliência, inspirações, eu..... hum, eu tocava o coraçãozinho dos presentes. When I think about you, I touch myself. Bonitinha a mensagem, aproveitem os toques.
Duas da tarde. Crianças esbaforidas correm de um lado para o outro. Paro em frente a uma cama elástica onde algumas delas se regozijam, pois como não se regozijar pulando adoidado sem preocupação de que se vai cair? Pobrezinhas, mal sabem os penhascos que as aguardam. Paro ali e fico olhando os anjinhos tão celestes num recanto especialmente invejoso. Eu quero ser uma delas. Eu quero pular adoidado também. Eu quero invadir esta linda caminha elástica e pular tudo a que tenho direito. Nesse momento, eu já sinto minha testa suar e acho que sou Patrick Bateman naquela cena em que este peculiar animal contempla os cartões de visita dos colegas terem sido muito mais bem feitos que o seu. Um yuppie convicto e uma yuppie sem escolha não sabendo lidar com a inveja que os consome e com o transe mental que veio como um tufão. Santo Christian Bale, que horror de comparação! Mas ilustra bem. Sim, oh, sim, baby, eu quero camas elásticas em esquinas espalhadas pela cidade para que toda alma atordoada pule o que precisa pular. Eu quero, eu preciso. Eu quero leis exigindo que nos expedientes haja camas elásticas para todo o chão de fábrica. Eu quero pular, porra, eu quero pular. Saí dali e fui pegar uma cerveja - a cama elástica do adulto médio. Sejam felizes, pirralhos. Enquanto podem pular sem medo de cair.
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