Não acredito em relações perfeitas e abnegadíssimas - todas são uma via de mão dupla. Nem mesmo nas de mães e filhos, ainda que o mito da maternidade venda a ideia de que esses seres incríveis estão ali para o que der e vier. Mas imaginar que há um colo me esperando independentemente do que aconteça é alentador, conforta meu coração burro e infantil. O mundo não é um lugar legal, ele está pouco se importando se estou gripada, se levei o casaco para o caso de esfriar, se tomei meus remédios, se comi direito. O mundo quer mais é que eu me foda. E, às vezes, ele consegue. O mundo certamente não teve mãe. Mas eu tive e tenho, e tem sido sempre uma experiência reveladora ter alguém tão bom para mim, mesmo quando nem mereço. Ter alguém que me ama de verdade - vocês têm ideia do que é ser amado de verdade? - torna as coisas bem mais fáceis. Será possível alguém amar um ser além da própria vida? Ou tudo não passa de construção social? Será possível essa relação aparentemente impossível de mão única em que só se oferece, mesmo recebendo tão pouco? Confesso não saber se tenho talento. Minha querida deve ter... talvez tenha nascido para isso pois faz tudo parecer muito natural. Eu com meus choros e paranoias; ela com aquela palavra cirúrgica que demove a pedra que eu, jovem demais para entender, insisto em fincar no caminho. E eu sempre me esqueço de refletir melhor e tirar as pedras sozinha. Uma hora aprendo, paciência. Será possível um ser assim tão incrível para outro ser tão mediano? Mistérios da vida. Talvez um dia eu entenda e seja parecida - igual ou melhor jamais.
Auxiliou no post:
Perfect day - Lou Reed
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