O que leva um jovem jornalista com um futuro promissor em uma influente revista americana a plagiar matérias e sepultar seu nome de vez da vida dos impressos? Foi o que me perguntei, após assistir com descrença o filme “O preço de uma verdade”, lançado em 2003 e dirigido com perspicácia pelo diretor Billy Ray.
Na história, somos apresentados a uma figura genial e metódica, conhecida por Stephen Glass, cuja fala distribui elogios por onde quer que passe, nos fazendo acreditar, ainda que erroneamente, que, para se dar bem no mundo do jornalismo, boa imagem e um círculo de amigos intocável são suficientes. No começo, realmente, é possível acreditar na ladainha que o protagonista se propõe a contar, já que, se utilizando de mirabolantes artigos, forjados por ele mesmo, galga posições na conceituada New Republic – publicação sediada em Washington. Porém , à medida que a história avança e envolve em sua trama, o jovem redator cai em contradições, mostra-se nada mais que um desorientado sonhador, cujas aspirações de fama e glória eram fundamentadas em pouco trabalho e muita malandragem e faz refletir sobre a questão que efetivamente merece ser debatida: a ética no exercício do jornalismo, principalmente, quando trata-se de veículos em que há certa liberdade de trabalho por parte dos repórteres, tal como no cotidiano da revista.
Toda a singularidade do episódio narrado, que é baseado em fatos verídicos, expõe a natureza frágil da atividade jornalística, ainda que sempre se preze por ética, moralismo e disciplina na obtenção das informações. Não por falta de bons exemplos na área, obviamente, mas por trazer à tona a ambição que norteia grande parte de seus seguidores, sempre pressionados pela busca de histórias impactantes e que garantam manchetes que “vendam”. Se há autonomia dentro da redação e um mínimo de talento para escrever sobre qualquer assunto, quem garante imunidade contra pilantras editoriais no meio? Essa falha é muito bem exposta no filme, até pelo fato de o jornalista de araque ter sido descoberto na sua rede de mentiras, um longo tempo depois de ter começado com suas peripécias literárias. Glass escreveu 41 artigos e destes, 27 foram total ou parcialmente copiados, fato que se vê fácil, ao analisarmos a personalidade dúbia do rapaz, que sempre procurava ser amável e persuadir os que estavam a sua volta com declarações desconcertantes. Tudo encenação, para encobrir de onde provinham suas escritas fantásticas: de uma mente enganadora, ainda que com enorme potencial no campo de atuação. Seu talento é inegável, é bem verdade, mas de que adianta um pouco de conhecimento que seja, se isso não for usado para um bem comum?
A profissão de jornalista, a julgar por histórias absurdas como a que serviu de mote para o filme, sempre sofreu com olhares de descrédito por setores da opinião pública. O fato não é digno de surpresa, uma vez que sempre houve e haverá alguém ou algum veículo querendo roubar o pouco de discernimento que nos resta. As perguntas feitas no início mostram quão complicado é falar do tema de liberdade de imprensa e de expressão – assuntos que movem a ação do jornalismo feito com seriedade. Hoje em dia, Stephen Glass vive como um cidadão americano normal, nem de longe lembrando o dissimulado repórter que se infiltrou na New Republic, em meados dos anos 90. Lançou livros – provando assim que, ao menos, possuía subsídio na ex-área de atuação – e transformou-se, literalmente, em ídolo, em um mundo que superestima fatos bizarros. Seu ônus foi o de apenas ter sido banido da profissão. Contudo, a discussão sobre a manutenção da ética nos veículos jornalísticos ainda permanece, logo, a sinopse cumpre seu papel primordial.
#PinóquioFeelings
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