Lembra-se muito bem do dia em que ouviu falar dele pela primeira vez. Lembra como se fosse hoje. Dia ensolarado, folhas secas costurando as ruas, outono abraçando meio mundo com seus braços gelados e afáveis. Dia bonito. Uma ternura no ar, uma doçura gratuita nas esquinas da cidade. Ao escutar seu nome, sentiu de imediato, um interesse insano: precisava conhecê-lo. Tocar seus cabelos, ouvir suas histórias, derramar seu encantamento naquele título tão convidativo. O moço parecia ser incrível, só ouvira elogios a seu respeito. Mais que curiosidade, alimentava uma espécie de implicância em relação a ele. Quem disse que ela iria com sua cara, só porque era uma espécie de unanimidade? Vai nessa, querido.
Ele era um jovem médico. Boa pinta, papo inteligente, com uma galeria de mulheres correndo em seu encalço: partidão. Um tanto idealista, um tanto perdidão, um tanto instigante. Sabe-se lá qual era a dele, até que em uma tarde de abril, foram formalmente apresentados. Ela carregava uma expectativa doente para ver seu rosto, escutar sua voz, vê-lo desinibido, esparramada no seu sofá. Trocaram algumas palavras sutis, alguns olhares cheios de segundas, terceiras intenções e não deu outra: levou-o para casa. Disse antes, porém, que o devolveria em bom estado para suas amigas ciumentas, na terça-feira. Mal sabia que iria querê-lo longe, muito antes de o prazo findar. Ao chegarem, se deu conta de que já havia combinado uma programação para a noite que se anunciava. Não hesitou e fechou a porta de seu quarto para o simpático russo, uma vez que as vodkas mostravam-se mais atrativas naquele sábado misterioso. Jivago o escambau, vamos passar a madrugada nas buatchy da vida.
O relógio marcou dez e meia da noite. Até ali já tinha feito dezenas de telefonemas, experimentado variadas combinações de blusas e calças jeans, mas o fato é que nada parecia andar. Olhou para a sua bolsa e num sobressalto notou que esquecera de comprar o ingresso - uma demonstração de rara inteligência, como se pode observar. O vento soprava que todos estariam naquela bendita festa, inclusive o eleito do coração e dos sentidos, daquele ano, 2007. A essa altura, quase numa reação em cadeia, as amigas foram dando sinal de vida e revelando que, ora pois, a noite iria por água abaixo lindamente.
- Maldição!
- Vou nem que seja sozinha!
- Não acredito que gastei tudo isso nessa blusa porcaria que tá desfiando!
- Devia ter pegado o novo do Paul Rudd!
Doce ilusão, foi é fazer um brigadeiro. E voltou para o Jivago, que esperava incrédulo na sala, jogado na mesinha de centro. Bom, resumo da ópera: não gostou dele, não gostou da Lara, não gostou dos personagens secundários, não gostou da paisagem congelante do Leste Europeu, não gostou da trilha sonora, não gostou de nada. Antipatia meramente ilustrativa e nem um pouco influenciada pelos planos furados, obviamente. Nem a saga de Lênin e cia forçou um sorriso naquela boca sedenta pelo destilado - por ironia do destino, vindo da terra do doutorzinho. Jivago, suma!
Ele era um jovem médico. Boa pinta, papo inteligente, com uma galeria de mulheres correndo em seu encalço: partidão. Um tanto idealista, um tanto perdidão, um tanto instigante. Sabe-se lá qual era a dele, até que em uma tarde de abril, foram formalmente apresentados. Ela carregava uma expectativa doente para ver seu rosto, escutar sua voz, vê-lo desinibido, esparramada no seu sofá. Trocaram algumas palavras sutis, alguns olhares cheios de segundas, terceiras intenções e não deu outra: levou-o para casa. Disse antes, porém, que o devolveria em bom estado para suas amigas ciumentas, na terça-feira. Mal sabia que iria querê-lo longe, muito antes de o prazo findar. Ao chegarem, se deu conta de que já havia combinado uma programação para a noite que se anunciava. Não hesitou e fechou a porta de seu quarto para o simpático russo, uma vez que as vodkas mostravam-se mais atrativas naquele sábado misterioso. Jivago o escambau, vamos passar a madrugada nas buatchy da vida.
O relógio marcou dez e meia da noite. Até ali já tinha feito dezenas de telefonemas, experimentado variadas combinações de blusas e calças jeans, mas o fato é que nada parecia andar. Olhou para a sua bolsa e num sobressalto notou que esquecera de comprar o ingresso - uma demonstração de rara inteligência, como se pode observar. O vento soprava que todos estariam naquela bendita festa, inclusive o eleito do coração e dos sentidos, daquele ano, 2007. A essa altura, quase numa reação em cadeia, as amigas foram dando sinal de vida e revelando que, ora pois, a noite iria por água abaixo lindamente.
- Maldição!
- Vou nem que seja sozinha!
- Não acredito que gastei tudo isso nessa blusa porcaria que tá desfiando!
- Devia ter pegado o novo do Paul Rudd!
Doce ilusão, foi é fazer um brigadeiro. E voltou para o Jivago, que esperava incrédulo na sala, jogado na mesinha de centro. Bom, resumo da ópera: não gostou dele, não gostou da Lara, não gostou dos personagens secundários, não gostou da paisagem congelante do Leste Europeu, não gostou da trilha sonora, não gostou de nada. Antipatia meramente ilustrativa e nem um pouco influenciada pelos planos furados, obviamente. Nem a saga de Lênin e cia forçou um sorriso naquela boca sedenta pelo destilado - por ironia do destino, vindo da terra do doutorzinho. Jivago, suma!
Comentários