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Para sempre sua esposinha

            E aí acabou, né? Findaram-se todas as traquinagens no campus, os flertes fatais pelos corredores acadêmicos, as matadas de aula abençoadas pelo dever de socialização entre graduações – adorava trocar ideias com meus co-irmãos. Findou-se tudo, tudinho. As idas à biblioteca e meus micos clássicos de estudante avoadinha, porém sempre com boas intenções na busca pelo conhecimento jornalístico e pelo acervo de revistas Manchete – penso, a essa altura, que eu era a única criatura que achava graça naquelas velharias. Eu, eu mesma e o bonitinho daquele curso que até hoje eu não sei qual é.
            Minhas risadas descontroladas enquanto tentava ficar séria para gravar os telejornais. Minhas piadinhas Chandler Bing style em pleno silêncio da sala de aula e concentração alheia para ler aqueles textos pavorosos e sem fim sobre a Escola de Frankfurt e seus pupilos. Minha seriedade inconfessa quando encarnava a repórter: de repente, ali, eu era quase uma Diane Sawyer dos pampas, dando uma notícia bombástica sobre a renúncia de algum estadista fodão dos Emirados Árabes Unidos e sei lá mais o quê. Podem rir, lindos. Meu interesse pela Semiótica e pela fatia de loucura que vinha no seu encalço – mentira, ninguém é louco por gostar dela, apenas fiquei mais sagaz no propósito de ler mentes. Cuidado comigo. Meu dom para gastar dinheiro em pastéis gigantes e fazer coleção de papéis de Sonho de Valsa em cima da mesa.
           Até parece que foi ontem que eu entrei naquela universidade, atrasada para a primeira aula de Teoria da Comunicação I e fazendo questão de tropeçar em uma classe na frente de meus coleguinhas – cena digna dos começos aflitos: ninguém quer errar, mas sempre tem um voluntário para iniciar os trabalhos. Até parece que foi ontem que eu levei uns ovos na cabeça, de uma galera que eu não conhecia e tive vontade de esganar lentamente cada veterano meu, pela humilhação passada. É o suprassumo dos clichês, ok, mas, cara, parece que foi ontem mesmo (!!!!) que entrei no Curso de Jornalismo, ainda meio amasiada com o Direito e dando umas piscadelas para a vida de andarilha boêmia que vai ganhar uns trocados pintando retratos em Buenos Aires. Sei lá, nunca se sabe, até que eu desenho maizoumeno.
           No fundo, sei que não havia dúvidas, era tudo uma questão de deixar o interesse vir à tona. Sei que nasci para isso e não posso fugir dessa atmosfera a que estou habituada, há quatro anos: pautas, freelas, fontes, leads e mais um escambau da informação a tiracolo. Uma curiosidade genuína por coisas que nem deveriam me interessar, uma bagunça cretina e clássica rondando os neurônios, um sorriso meio infantil saltando dos lábios por algo que ninguém saiba e talvez renda uma boa história a ser ouvida...

É, amigo... entrei nessa vida bagaceira do Jornalismo e não tem jeito: serei para sempre sua esposinha malcriada.




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