Palavras gentis em homenagem ao “cara” parecem nunca ser o bastante, pois se tem algo que ele
domina nessa vida é a arte de enlouquecer o sexo oposto. Ele faz isso sem
querer, talvez nem desconfie da ebulição hormonal que provoca no corpo das
pobres jovens incautas espalhadas pela cidade, à procura do amor, sedentas por
beijos honestos e quentes. Ou talvez saiba, uma vez que é, de fato, o cara. Eis
um mistério da vida que nunca será desvendado – muito menos por mim, mera observadora
desse tal dínamo do amor.
O cara manja, é
incrível seu talento para desarrumar toda uma vida, toda uma sequência de dias
aparentemente normais e pacatos. Manja como um velho andarilho que já aniquilou
milhões de promessas de conto de fadas com um perfume que penetra pelo poro
mais escondido da pele e se instala no neurônio mais teimoso. Manja como um
legítimo conhecedor das fraquezas femininas, embebidas por noites mal dormidas,
sonhos despedaçados, decepções latentes, quase amores que dobram a esquina, e
só deixam o vazio de não ter ido adiante. Tudo ele sabe, tudo ele capta com
seus olhos mezzo marrons mezzo esverdeados de adivinhar
pensamentos e que, descaradamente, finge manter distraídos: ledo engano, doce
veneno.
Todos os caminhos encontram convergência no
seu modo de andar, de carregar meio mundo com ele, de universalizar seu cheiro
nas roupas esquecidas. Ele existe sem querer em cada curva, em cada riso solto
e afoito no ar. Ele resiste soberano, pois esse jeito estranho de revanche é
parte dele. Do cara por quem todas, de certa forma, aprenderam a nutrir
sentimentos. Não importa muito a ordem, o sentir é uma ação recorrente, nem
elas entendem. Ele, sim. Ele é autor da história, alvo preferido da
metralhadora cheia de mágoas. As águas rolam, os tempos mudam, mas o rio erra
seu curso original: a foz perde-se em possibilidades. O cara tem talento
especial para semear abstrações que vão perdurar por horas, quiçá meses: o mérito
é dele. Cai nessa quem quer – ou quem não tem escolha, vai saber.
O cara
vem, o cara vai. Seu rosto muda, mas, de certa forma, nunca se esvai. Seus
braços queimam em algum lugar, na memória de algum abraço; seus dedos tocam o
gelado de algum coração cansado. Vendo sua alegria de viver no improviso, seu
vestuário doentio e conhecido pelo poder de grudar no pensamento, e sua timidez
- de quem sabe que isso é capaz de derreter qualquer alma cor-de-rosa - certas
coisas ficam bem claras. Ou apenas misteriosas – como ele próprio insinuaria.
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