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Aleatorize-se


       Pois eu, que já havia decorado a ordem de músicas do meu tocador pessoal, resolvi colocá-las para dar o ar da graça de modo aleatório. Que grata surpresa. No aleatório, tudo é possível. A surpresa é sempre grata. Músicas no aleatório é tipo dar uma chance para as supresas deliciosas da vida, é viver sem medo, é abrir um sorriso para o desconhecido e se descobrir encantado - passível de gargalhar como se não houvesse amanhã outra vez.
        A cada música que começava, eu me surprendia com a infinidade de possibilidades com que poderia ser agraciada. Desse modo, a californiana Under the bridge, a country escandalosa If it’s make you happy, as guitarrísticas Tunnel of love, Lady writer – entre outras – foram apreciadas de forma singular. Perguntarão vocês que grande porcaria é isso, não? Pois eu garanto que tem graça – e muito! Poderia ser a vez de Caetano ou quem sabe, de sua irmã cantando Vinícius - aquele carioca diabólico? Poderiam ser os olhos cor de ardósia de Chico ou outros olhos quaisquer me fazendo sonhar – castanhos talvez? Não sei, qualquer um seria incrível a sua maneira, pois eu não esperava nenhum. A iminência da dúvida era o grande barato –  o trunfo maior. Pra que viver sabendo o que vai acontecer? Pra que viver num plano sem fim? É muito mais divertido não esperar nada, e ser inundado por uma maravilha insuspeita. A vida acontece melhor no aleatório – me convenci.
        Aleatorize-se. Aleatorize sua vida, não se prenda a uma rotina estafante. Ou melhor, dê sua cara à rotina, personalize sua vida, não aceite migalhas de você mesmo. Já diria a diva da televisão americana, Oprah Winfrey: ‘’o amor que você recebe é proporcional ao amor que você dá”. Pois então, irradie amor: por você, pelos outros e por onde você passar. O mundo é uma loucura, tem muita coisa ruim, muita mediocridade, muita chuva e granizo, mas ainda assim é um jogo excitante: não baixe a cabeça, meu caro, lance seus dados e espere pelo melhor – você já deve ter ouvido por aí que o pensamento tem poder. Jogue com o que você tem de mais digno, sua bondade, seu coração, seus ideais. Coloque seu coração no que fizer, mais que seu cérebro. Use-o até que sinta seus músculos exaustos: tendo a exaustão um quê de paixão, terá valido a pena.
        Todavia, faça isso por você, pela sua vida, pelo seu bem viver: não espere recompensas, não espere honrarias, tenha em mente só que isso é uma autoalimentação. Aleatorize-se por você, pela sua sanidade, para amadurecer e aprender a apreciar o imprevisível. Aleatorize-se, deixe suas músicas bagunçadas, permita que suas bandas façam um coquetel com suas emoções e seja idiotamente feliz. Saúde! 







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