Cheguei ao teste combinado, um pouco adiantada. E fui recebida na sala onde seria testada, com um singelo oferecimento:
- Quer um copo de café????
- Obrigada, não vou querer, café me faz mal... (favor imaginar essa assertiva dita em slowmotion, como naquelas zoações típicas do Programa Pânico.)
Foi o mesmo que dizer ''Sim, eu fui cúmplice de Hitler no Holocausto." ''Sim, eu sou a menina que quase foi estrangulada pela boneca da Xuxa, devido ao pacto que ela fez com o cramunhão.''
CHOCADOS! Os senhores daquele recinto ficaram chocados. Eu, jornalista, negando café. E, mais: tendo o disparate de dizer que o fulano me fazia mal. Não adiantou nem eu argumentar dizendo que ''me baixava a pressão e coisa e tal, mas que eu até que tomava umas xícaras...'' Nada disso, minha credibilidade já havia sido abalada para todo o sempre. Poser, essa mina é uma baita duma poser! Se bobear, nem bloquinho ela carrega na bolsa, esse projetinho de jornalista.
Pois foi aí que eu comecei a pensar. Tive uma Epifania Lispectoriana Aguda em Dó Maior e por pouco não caí sentada num sofá simpático que havia ali na sala em que me encontrava. Passei a ver como rótulos são nojentinhos, escrotinhos e mesquinhos em sua natureza. Rótulos nos limitam, nos roubam o pouco de originalidade que ainda resiste intacto no melhor de nós, aquele melhor criança, ingênuo, natural - o mais fácil de ser corrompido. É claro que a diferenciação é necessária no mundo: em um mundo habitado por sambistas e roqueiros, repressores e hedonistas, segregar é tarefa inconsciente. Ninguém escapa ao julgamento alheio e ao seu próprio, mas não consigo simpatizar totalmente com certos estigmas. Quer dizer que se eu for jornalista, não posso deixar de consumir cafeína em doses cavalares? Quer dizer que se eu for jornalista, tenho que amar toda e qualquer pauta que me caia às mãos? Quer dizer que se eu for jornalista, tenho que viver ligada no 220, sacrificando minha saúde mental e meu bom-mocismo, para saber de coisas que nem me interessam de verdade? No way, baby. Envelheci uns 20 anos só de pensar nisso.
É claro que não me senti ultrajada devido ao fato de recusar o bom e velho café tupiniquim, mas que essa história acabou se convertendo num causo interessante, isso foi, pois trata-se de um assunto recorrente entre nós, não? Somos humanos que convivem diariamente com padrões de comportamento. Padrões que enganam. Padrões que irritam. Padrões que enojam. ''Jornalista que é jornalista, usa all star, vive de café e coxinha do bar da esquina e não dorme 8h por noite.'' Favor enfiar tais conceitos num orifício anal por aí. E que história é essa de não dormir? Enquanto não houver outro muro de Berlim sendo derrubado, meu sono da beleza continuará como prioridade, por favor, né.
São vários exemplos de como a sociedade está impregnada de rótulos. É como se as pessoas andassem na rua com uma placa dizendo o que são e qual sua atribuição no mundinho que habitam, ainda que isso seja tão pequeno perto do que podem ser e fazer. Nerds, piranhas, metaleiros, workaholics, playboys, patricinhas, santos, pecadores. Poxa, quanta miséria nesses olhos que veem só o óbvio. E pensar que tudo começou com um cafezinho relegado, hein? Acho melhor não mexer mais com esses cafémaníacos.
- Quer um copo de café????
- Obrigada, não vou querer, café me faz mal... (favor imaginar essa assertiva dita em slowmotion, como naquelas zoações típicas do Programa Pânico.)
Foi o mesmo que dizer ''Sim, eu fui cúmplice de Hitler no Holocausto." ''Sim, eu sou a menina que quase foi estrangulada pela boneca da Xuxa, devido ao pacto que ela fez com o cramunhão.''
CHOCADOS! Os senhores daquele recinto ficaram chocados. Eu, jornalista, negando café. E, mais: tendo o disparate de dizer que o fulano me fazia mal. Não adiantou nem eu argumentar dizendo que ''me baixava a pressão e coisa e tal, mas que eu até que tomava umas xícaras...'' Nada disso, minha credibilidade já havia sido abalada para todo o sempre. Poser, essa mina é uma baita duma poser! Se bobear, nem bloquinho ela carrega na bolsa, esse projetinho de jornalista.
Pois foi aí que eu comecei a pensar. Tive uma Epifania Lispectoriana Aguda em Dó Maior e por pouco não caí sentada num sofá simpático que havia ali na sala em que me encontrava. Passei a ver como rótulos são nojentinhos, escrotinhos e mesquinhos em sua natureza. Rótulos nos limitam, nos roubam o pouco de originalidade que ainda resiste intacto no melhor de nós, aquele melhor criança, ingênuo, natural - o mais fácil de ser corrompido. É claro que a diferenciação é necessária no mundo: em um mundo habitado por sambistas e roqueiros, repressores e hedonistas, segregar é tarefa inconsciente. Ninguém escapa ao julgamento alheio e ao seu próprio, mas não consigo simpatizar totalmente com certos estigmas. Quer dizer que se eu for jornalista, não posso deixar de consumir cafeína em doses cavalares? Quer dizer que se eu for jornalista, tenho que amar toda e qualquer pauta que me caia às mãos? Quer dizer que se eu for jornalista, tenho que viver ligada no 220, sacrificando minha saúde mental e meu bom-mocismo, para saber de coisas que nem me interessam de verdade? No way, baby. Envelheci uns 20 anos só de pensar nisso.
É claro que não me senti ultrajada devido ao fato de recusar o bom e velho café tupiniquim, mas que essa história acabou se convertendo num causo interessante, isso foi, pois trata-se de um assunto recorrente entre nós, não? Somos humanos que convivem diariamente com padrões de comportamento. Padrões que enganam. Padrões que irritam. Padrões que enojam. ''Jornalista que é jornalista, usa all star, vive de café e coxinha do bar da esquina e não dorme 8h por noite.'' Favor enfiar tais conceitos num orifício anal por aí. E que história é essa de não dormir? Enquanto não houver outro muro de Berlim sendo derrubado, meu sono da beleza continuará como prioridade, por favor, né.
São vários exemplos de como a sociedade está impregnada de rótulos. É como se as pessoas andassem na rua com uma placa dizendo o que são e qual sua atribuição no mundinho que habitam, ainda que isso seja tão pequeno perto do que podem ser e fazer. Nerds, piranhas, metaleiros, workaholics, playboys, patricinhas, santos, pecadores. Poxa, quanta miséria nesses olhos que veem só o óbvio. E pensar que tudo começou com um cafezinho relegado, hein? Acho melhor não mexer mais com esses cafémaníacos.
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