"O problema da Bruna é que ela dá opinião demais". E assim, dizendo essa frase em algum chá de sermão nos idos dos anos 2000, papai mei que profetizou que eu - sua primogênita - ainda ia me foder muito na vida por ter um bocão sem papas na língua, quase que agoniado por deixar sua marca no mundo. Quase um animal agonizante, que percebe que vai morrer, sem ter chance de ser ouvido - ora porque seu grito não é tão importante assim, ora por pura falta de talento no propósito de compadecer os interessados.
O fato é que eu sempre fui assim. Como deveras ecoou o grupo rebolativo É o Tchan nas televisões cristãs do Brasil - agora na década de 90 - "pau que nasce torto nunca se endireita''... eu, na minha tortuosidade sem fim, acabei por me converter num autêntico exemplar da garotinha que não sabe controlar a língua, e sai despejando suas impressões pela rua - tipo lixo, percebem? Muitas vezes, já me disseram que eu sou uma pessoa ''engraçada''. Luto ferozmente, para lembrar do momento em que reuni milhares em uma plateia e ganhei uns pilas com esse incrível dom que desconheço em mim. Não sei de que graça falam, mas é possível que façam referência à sinceridade que busco prezar em minhas relações, sejam elas efêmeras ou duradouras. Não se trata, todavia, daquela sinceridade que traz consigo a denotação que já se incorporou ao senso comum. É uma sinceridade pueril, ingênua. É uma sinceridade que acredita em Cinderela e Papai Noel. É uma sinceridade brasileira, uma sinceridade arisca, talvez, em determinados momentos, mas sempre muito arraigada, aglutinada no que entendo essência do que sou. É uma sinceridade fodida, se preferirem.
Veja bem, minha jovem...
Começo a perceber de onde vem minha fama circense não identificada: é de ser eu mesma, e não pedir licença. É tudo culpa dessa mania de ser uma sem-noção com imã para horários e lugares impróprios. Fazer perguntas quando o horário da aula está acabando, por ter achado o assunto explanado pelo professor realmente interessante. Falar dos próprios erros cotidianos como quem pede desculpa por ser tão humana e, no fundo, tão frágil. Rir, em sonho, do Delfim Netto, quando tal simpático ministro afirma que ''é preciso esperar o bolo crescer, para só então dividi-lo'' - logo eu que vejo não existir bolo algum, no máximo, algumas migalhas. Tratar chefes com a indiferença de quem nunca vai ir muito longe na vida, se depender daquela esperteza corporativa e disciplinada que só os visionários possuem. É tudo culpa de ter nascido uma fodida, como muito bem disse papai, ainda que eufemisticamente.
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