Atentem para um caso raro de vulnerabilidade agridoce:
Tem dias em que a modernidade assusta, e tudo que você
quer é se prender, ser capturada, ser presa por um amor. Sim, quero um amor.
Adoro minha liberdade – ou quase sensação – mas quero, sim, ser tragada para
dentro de um mundinho paralelo em que só eu e esse tal existam. Quero meu
Landon Carter, meu Fabrizio Moretti, meu Humphrey Bogart, meu Chandler Bing, meu Dave Grohl – maldito mundinho hollywoodiano, maldito mundinho rockstar que não me deixa ser uma adulta bem
resolvida. Eu preciso do meu príncipe roqueiro e inteligente e
gostoso e cabeça e não-fumante e solidário e sorridente e vindo de um livro dos Irmãos Grimm
– é caráter de urgência. Dane-se o feminismo, dane-se Simone de Beauvoir, dane-se Pagu, dane-se minha dignidade, dane-se vergonha na cara, eu quero o meu amor, cadê você que não aparece, seu desaforado? Cansei de olhar para olhos que não me despertam
nada além de sono, eu quero é olhar para esse tal que me escorre pelo dedos em
quases irritantes, e sentir, na mais piegas definição da palavra, uma paixão avassaladora.
Eu quero que, após isso, você lute por mim. Sim, eu quero ser defendida, quero
ser exaltada, eu quero ser uma musa, um tormento, uma solução, uma brisa
inspiradora, eu quero ser a sua piranha, meu caro desconhecido. E só sua. Eu
quero ganhar flores – nem que seja para depois dizer que não sou fã de rosas, e
consolar seu bom-mocismo falho com minha sinceridade – que, claro, você há de
amar. Eu quero ganhar colo, quero ser devorada, quero ser questionada, quero
ser mimada, quero ter ataques de ciúme, mesmo desconhecendo o porquê, mesmo não me reconhecendo depois. Quero
discutir e praguejar sua existência, e depois ir atrás de seu casaco na chuva,
implorando por um beijo. Eu quero um amor almodovariano, um amor modernista, um
amor buarqueano, um amor sessentista, um amor conservador e revolucionário, um
amor otário. Eu quero reconhecer sua sombra no escuro – tudo isso, por ter
decorado o mapa do seu corpo. Eu quero ser seu mais sincero estorvo. Eu quero
receber uma declaração e ficar sem palavras, quero entender seus olhares sem
ter que dizê-las – quero que, no nosso caso, sejam meras coadjuvantes. Quero
que tenhamos não espírito de casal, mas, sim, de amantes – quero adrenalina,
quero ser sua pequena grande menina. Eu quero ser entendida, quero que meus
defeitos virem atração principal. Eu quero que esse amor, nosso amor, vire matéria de jornal. Capa de jornal.
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