Escrevo, aqui e agora, pós recuperação de um baile de
formatura de uma amiga queridíssima. Festão. Festa linda, mas não menos
bizarra. Festas – ao menos estas que seguem o padrão vigente - são bizarras -
e só para que fique claro o espírito da postagem: meu baile também foi bizarro.
De referida bizarrice ninguém está imune, uma vez que está condicionada desde muito
tempo atrás.
Mas, desconstruamos o termo "festa". Aquilo ali não é
festa, é meia-irmã do pau-de-arara. Por isso as pessoas, estando ali, bebem pra
caralho: não aguentariam sóbrias aquela filialzinha do inferno. Festa já é um
troço indigesto, a começar pela imposição do salto. Quem disse que seríamos plenamente
felizes, nos equilibrando em sapatos altíssimos? Claro, claro, dirá você que, se "está ruim", eu devo é aderir às sapatilhas, mas vamos combinar que o
mundinho machistinha que habitamos – esse que afirma que mulheres ficam muito
mais "femininas" usando salto alto – não está preparado para presenciar moças
bem resolvidas usando singelas rasteirinhas, sem proferir escárnios das mais
variadas naturezas. Enquanto isso, dá-lhe abraçar o padrão de feminilidade da
revista Nova. Viva!
Bom, daí para a frente é o show dos horrores e só com
muita cachaça correndo no sangue, para aguentar. De repente, eu tô ali, pouco
me reconhecendo, fazendo movimentos igual a um boneco de Olinda com lordose –
uma massa de estranhos me acompanha na empreitada, lógico – escutando músicas
escrotas que deveras já foram zoadas por mim (Deus castiga, viu?) e sorrindo
como se eu realmente estivesse realizadíssima com o fato. Sorte minha que eu
rio até com o vento passando e, de quebra, ensaio umas análises sociológicas de
araque.
Falando em música, tá aí um troço que sempre tem que ser
muito ruim. Não existe meio-termo. Como já falou a sempre sagaz e psicótica,
Natália Klein, não existem concessões no inferno. Se é para sofrer, que seja do
pior jeito possível. Se é para sofrer, vamos balbuciar umas onomatopeias com
duplo sentido, do tipo "pra nós fazer parapapá", "eu vou pegar você e
tãããe", além do famigerado "tchu tchá tchá", até sentir o rosto arder de vergonha alheia. Se me permitem uma comparação,
não é impunemente que o Chico, por exemplo, não frequenta tais playlists
mundanas. Ele foi feito para ser tragado no mais íntimo silêncio, no mais doce
dos momentos. Chico não combina com cerveja barata, com alegria vazia, com
sorrisos falsos. Ele é da existência diária, da melancolia de sentir a vida no
que ela tem de mais triste e mais poético. E outra: as letras dele não são
remixáveis. É outro nível, galerinha.
Eu, hoje em dia, me permito ir a festas mais temáticas, em que toquem músicas que tenham mais a ver comigo, que me recebam de braços
abertos - ainda que eu chegue usando meu All Star velho de guerra. Mas faço
concessões, claro, pois aqui a diplomacia reina. E sexta que vem tem de novo.
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