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Sobre inveja e os professores de amor-próprio

Penso que a inveja sempre existiu. E, por mais indigno que seja, todos - eu disse todos - já experimentaram o seu amargo na boca. O que não quer dizer, entretanto, que mereçamos arder numa fogueira. Menos, né, galera? Tenhamos sagacidade para lidar com os sentimentos negativos, eles aparecem às vezes, é da vida. Eu, por exemplo, sempre vou invejar o cabelo da Rachel Green. Sempre, não dá para evitar, cada vez que ela aparece, com aqueles fios milimetricamente obedientes e sedosos, eu sinto vontade de me esconder. Mas daí a sentir pena de mim e do meu cabelo - que pode não ser de comercial, mas é bem simpático - existe uma distância oceânica. É um exemplo bobo, mas vem ao encontro do que defendo: transmutar o sentimento em algo benéfico ou que, ao menos, mude alguma postura, um hábito, uma percepção. Ninguém está imune a sensações pouco gloriosas como a citada, mas todos podem escolher o que fazer com elas, não? É tudo culpa dessa grama do vizinho que insiste em ser mais verde, vez que outra. Ou não também, vai ver, a gente é que olha muito pro jardim dele e se esquece do nosso, não nos martirizemos por pouco.
Falei, acima, de uma criatura hollywoodiana que nem sonha com a minha existência, mas que ilustra bem o momento fabuloso que presenciamos e que quero expor aqui. Dia desses, a sempre observadora Rosana Hermann se saiu com uma ótima no Twitter: ''Selfie é a vingança dos sem-paparazzi''. Percebam a astúcia dela, ao determinar um comportamento de intenso exibicionismo - tal qual o que aprendemos a cultuar nas revistas e na televisão. Porque as pessoas, elas não têm noção de ridículo, meus caros, é de doer, mas elas se levam a sério. Absurdamente a sério. Elas fazem biquinhos nas fotos como se realmente possuíssem um exército de seguidores pronto a aplaudi-las (bom, sempre tem um trouxa para dar moral, é inegável), assim como os ídolos que aprenderam a amar. Elas cantam a música da menina Valesca - nada contra ela absolutamente - como se realmente fossem invejadas - elas, que colocaram ''mais'' em detrimento de ''mas'' na frase e arremataram curtindo a própria foto. Desculpe, mas é humanamente impossível sentir inveja de gente que curte o próprio status.
Vivemos a era do recalque - que resolveu sair do submundo e, hoje, é tema de músicas, teses facebookianas profundas para afastar supostas ''inimigas'' (ô cantilena!!!), entre outras manifestações. Todavia, não pensemos que isso é de agora: a vulgarização foi inevitável, mas há tempos ele é inspiração de estudos psicanalíticos. E parece que o tal recalque acomete a todos, meus caros, que remédio. Ainda assim, sei lá, mais vale sentir inveja de uma Rosana Hermann da vida que de um professor equivocado de amor-próprio em rede social, né, Tio Freud? Por favor.



Auxiliou no post:

David Bowie, com Absolute beginners e Ashes to ashes  







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