Lendas da Paixão está fazendo 20 aninhos de lançamento, que amor. Reassisti a essa droga, há uns dias, e resolvi reportar, dada a data redondinha. Digo droga, porque é literalmente uma droga de efeitos perversos. Sempre que vejo fico meio atordoada, demoro dias para me recuperar, fico fantasiando aquela trilha maldita até abrindo a geladeira e pegando a margarina, e, como não deixaria de ser, vejo aparições de um cabeludo Tristan Ludlow em cada vão da casa. Em cada esquina, isso mesmo, Samuel Rosa, eu vejo seu olhar. Uma loucura. Esses épicos me arrebatam sempre, como que me tragando para um mar denso e confuso. O fato é que essa tal Hollywood não tem um pingo de condescendência com nós, os miolos moles, as almas vagabundas, os impressionáveis, os imbecis com boas intenções.
Bueno, a sinopse é sobre três irmãos que vivem com o pai, William Ludlow - que se separou da esposa quando estes eram crianças -, em um rancho afastado do oeste americano, mais precisamente em Montana, no início do século XX - sim, aquela atmosfera de primeira grande guerra e coisa. Os meninos são Alfred, o mais velho e desde pequeno, sério e dedicado em seus afazeres, Tristan, o filho do meio, criado em contato com os índios e com uma bravura que chega a assustar os demais, e fechando a tríade, Samuel, que é frágil e convive com a proteção excessiva dos irmãos. Até aí, tudo na paz, os três crescem fazendo umas estripulias e colecionando histórias bonitinhas. Porém, com a chegada de Susannah, noiva do caçula, ao convívio rude da fazenda, estas relações masculinas, antes intocadas, sofrem um abalo considerável - e é aí que vemos o conflito que dará norte a toda a sinopse. E não vou contar mais nada, sabe, porque tenho esperança de que vocês, caso não tenham visto ainda, verão e me mandarão e-mails, deixarão comentários e me apoiarão, a fim de trocarmos figurinhas e enxergarmos os olhos indômitos do Tristan num filme imaginário, pois é tudo o que nos resta. Mas só alerto: essa coisinha hollywoodiana é bem mais que um filme sobre paixão, não se deixem enganar. É, principalmente, sobre laços. E, ai, como laços são bonitos. Sim, cara, você vai chorar.
Só porque eu fiquei "Tristan isso, Tristan aquilo", me deixem fazer umas considerações sobre esse serzinho indecifrável, que inevitavelmente sintetiza as relações dolorosas que podem surgir entre nós, animaizinhos sentimentais. Ele é, sem dúvida, o preferido do pai, ainda que este ensaie algumas reprimendas diante da personalidade intempestiva do filho. Ele é, sem dúvida, a cocaína da trama, visto que pessoas aventureiras sempre serão irresistíveis, ainda que também saibam ser bem cruéis. E ele é, sem dúvida, o culpado do meu choro máximo, não tem o que discutir, as maiores reviravoltas do filme são protagonizadas pelo seu belo rostinho. E isso, essa coisa de reviravolta, tem aos montes. Assim que eu gosto, mesmo que não admita. A tristeza sabe ser bonita, se olhada com delicadeza. E delicadeza é o que não falta... ai, ó o nó na garganta de novo. Paro por aqui.
*O filme é baseado em um livro, cujos personagens não tem necessariamente o mesmo destino contado na obra cinematográfica. Sugiro cautela para não rolar uma decepção.
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