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Feminista eu? Tá louca, Bruna!

O rótulo ''feminista'' assusta, né? Onde já se viu ser chamada dessa coisa horrenda aí. Eu não sou feminista, sou feminina, meu bem. Argh, pausa pra vômito. Como se uma coisa excluísse a outra. Nenhuma mulher deve ser coagida a se denominar feminista, mas fazer suposições sobre uma palavra cujo significado verdadeiro se desconhece é desonestidade intelectual. Burrice, sabe.
Eu já elenquei neste espaço os momentos que despertaram em mim uma consciência feminista e não vou entrar em detalhes novamente, mas queria deixar claro que eu também morria de medo de ser ''tachada'' de. Sei lá, não me sentia confortável. Mas isso era quando eu não tinha lido nada profundamente. Pois aí eu fui ler, estudar - sim, porque é um estudo - e aprender. Em suma, sair das trevas da ignorância.
Você, amiga que me lê no momento, pode até espernear e dizer que não é feminista, mas, se por algum motivo, já se sentiu discriminada única e exclusivamente por ser mulher, devo dizer que carrega um ímpeto dele, o feminismo, no peito. Se já deixou de colocar uma roupa, porque sabia que na esquina de casa haveria homens ''mexendo'' com você, e ficou chateada por isso, saiba que carrega uma faísca feminista no coração. Ai, Bruna, mas os homens são assim desde sempre, eles mexem, eles brincam. O nome disso é machismo, minha cara. O mundo é machista desde que é mundo porque foi feito para homens e funciona segundo suas leis e princípios. Não quero soar academicista, até porque não tenho propriedade pra isso, mas vivemos, desde que as coisas são o que são, em um sistema de opressão chamado patriarcado. Busquem saber as amarras que advêm disso, politizem-se. Não para impressionar os outros, mas para viverem melhor, para terem consciência dos meandros sociais e políticos em que estão envoltas. Saca os sonhos de uma estudante de Ciências Sociais............
Eu sei, eu sei, temos homens maravilhosos convivendo com nós. Ai, Bruna, que horror, meu namorado não é machista, tá louca? Ele é, amiga, ele é; não porque é o cramunhão, e, sim, porque reproduz os privilégios aos quais seu gênero está habituado há séculos. Reproduzir discursos privilegiados é mais fácil que andar pra frente.
Meu pai é um baita cara, mas é machista. Não um machista que espanca mulheres e as assedia na rua, mas um machista que se recusa a lavar uma louça, por exemplo. E eu sigo amando ele mais que tudo na vida. Todos nós, homens e mulheres, estamos à mercê da nocividade do machismo e ele aparece em diferentes níveis de opressão. Tem mulheres que sofrem mais e outras que sofrem menos, sempre, claro, levando em conta os importantíssimos recortes étnicos e de classe. Viram a gravidade de sair despejando asneira sem nem saber do que as coisas tratam?
O machismo me enoja, por exemplo, quando eu preciso sair sozinha à noite. E sei que enoja vocês também. Eu sei, eu sei, a violência é cruel com homens e mulheres, mas homens não sentem medo de serem estuprados. O machismo me enoja quando eu vivo num país onde o aborto é ilegal, restringindo o direito sobre o meu corpo. Não me interessa sua crença, meu bem, eu não quero ser obrigada a ter um filho que não planejei e ter que criá-lo como um castigo por ter ''aberto as pernas''. O machismo me enojou quando eu tive que trabalhar numa redação de jornal cheia de homens e tive que conviver com insinuações sexuais sobre o meu corpo, porque eu era ''uma novinha bonitinha''.
Sabe, se vocês se reconheceram nesses relatos, que podem até soar bobos, saibam que possuem uma célula feminista pulsando aí dentro de vocês. E não existe motivo para se envergonhar disso.






       

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