Ei, menina, deixa eu contar um segredo: você não é especial. Não aos olhos de um mundo de supremacia masculina em todos os âmbitos da sociedade. É válido sempre colocar a máxima em cima da mesa: não se trata de um jogo em que você compete com as outras mulheres para ver qual merece mais ser feliz. Ser feliz por andar na linha, ser feliz por beber pouco numa festa e ser discreta diante dos amigos daquele bostinha que tanto quer impressionar. Ser feliz por ficar sexta à noite em casa e tirar fotos dizendo que é pra casar, afinal, isso vai lhe garantir um príncipe montado num pangaré e fazer da sua vida um conto de fadas morno e sem sal. Ser feliz por julgar aquelas periguetes que saem de barriga de fora e vestidos minúsculos. As periguetes e você estão todas no mesmíssimo barco.
Para todos os efeitos, você será uma vadia, puta, vagabunda em algum momento da vida. Vadia porque deu. Vadia porque não deu. Vadia porque deu muito. Vadia porque deu de menos. Vadia porque é direta. Vadia porque quer que as coisas vão mais devagar, afinal, isso é coisa de vadiazinha fazida. Vadia porque não quis trabalhar. Vadia porque só quis trabalhar. Vadia porque quer estudar. Vadia porque é inteligente. Vadia porque não estudou e, claro, isso só pode levar a um golpe do baú. Vadia porque não quer ter filhos. Vadia porque teve filhos demais. Vadia porque abortou. Vadia porque não abortou e colocou no mundo um filho que se sentia incapaz de cuidar. Vadia porque diz o que pensa. Vadia porque nunca diz nada. Vadia porque quis se separar. Vadia porque não quis se separar. Vadia porque mora sozinha. Vadia porque mora com os pais, baita vadiazinha sustentada pelo pai essa daí. Vadia eternamente. Vadia simplesmente por existir. Você não é diferente, não é uma iluminada olhando de cima essas pobres mulheres que não se ''dão o valor''. Você vai ser elas em alguma circunstância. Essa lógica perversa vai doer em você, porque ela sempre dói.
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