Pular para o conteúdo principal

Vida, Almodóvar e Drummond

        Às vezes, eu fico me perguntando o que é a vida, se não um monte de topadas com a comédia, com o que não estava no roteiro. A gente planeja, se consome em estratégias, perde o sono ensaiando e, bem no fim, nada sai como o esperado. Talvez em dado momento até saia, mas aí... bom, aí bate aquela inquietação clássica: ok, não era bem assim que eu queria. Só há rebuliço interior, de verdade, quando rola alguma cena à la Almodóvar, quando a salada está instaurada e o diretor ficou louco. Tudo desmorona, mas no fundo a gente sabe que o final reserva uma surpresa reconfortante.     
        Vida, essa malandra... vive me pregando peças, fazendo eu me questionar o tempo todo, insistindo para eu enfrentar aquilo que me dá legítimo pavor. Me colocando contra a parede e botando o dedo na minha cara: "Eaí, lindinha, o que vai ser?" Vida é sair de casa sem guarda-chuva e cair o maior toró. Vida é virar o pé com um saltinho 15 na frente do seu paquera. Vida é não sair no final de semana para estudar para aquela bendita prova e ela ser cancelada. Vida é decidir usar aquela blusa linda e derrubar mostarda na dita-cuja bem na hora do compromisso. Vida é paranóia constante. Impossível fugir do drama. Vida é perguntar sem ter resposta. Vida é contar aquela piada da qual ninguém riu. Vida é eterna nostalgia. Vida é ter saudade daquilo que nunca vivemos.
         Vida é assim, uma incessante espera, uma reflexão obrigada, um vazio que não se justifica, uma filosofia barata. Ser racional ou se entregar à idiotice? Ser frio ou quente? Levantar bandeiras ou a taça de champanhe? A gente toma na cara todo dia, se decepciona em tempo recorde, e por que não desiste? Qual o mistério dessa esperança meio capenga que insiste em se abrigar dentro de nós? Quem disse que vai dar certo? Nessas horas, a carapuça desse trecho do Drummond serve direitinho em mim.


"Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."


Só porque eu sempre me senti meio gauche nessa minha vidinha besta.
         

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

5 ANOS DE BLOG - PARTICIPE DA PROMOSHARE

Hoje, nós da empresa, completamos 5 anos de blog. Vamos dar o play para entrar no clima:                         #POLÊMICA: sempre preferi o parabéns da Angélica em vez de o da Xuxa. O que não quer dizer que eu ame a Angélica, claro, por mim ela pode ir pra casa do caralho. ENFIM, VAMOS CELEBRAR! 5 ANOS DE MERDA ININTERRUPTA AQUI! UHUL, HEIN? Era 22 de dezembro de 2010, estava euzinha encerrando mais um semestre da faculdade de Jornalismo, meio desgraçada da cabeça (sempre, né), entediadíssima no Orkut, quando finalmente tomei coragem e decidi dar a cara a tapa. Trouxe todas as minhas tralhas para o Blogspot e a esperança de mudar alguma coisa. Infindáveis crônicas começaram a ganhar o mundo e a me deixar mais desgraçada da cabeça ainda: sei lá, escrever é uma forma de ficar nua, de se deixar analisar, de ser sincero até a última gota, e isso nem sempre é bom negócio. Mas, enfim, felizmente tenho sobrevivido sem grandes traumas - mas não sem grandes catarses, por isso esse n

Família Felipe Neto

Eu já queria falar sobre isso há um bom tempo, e, enquanto não criar vergonha nessa cara e entrar num mestrado para matar minha curiosidade de por que caralhos as pessoas dão audiência para pessoas tão bizarras e nada a ver, a gente vai ter que escrever sobre isso aqui. Quando eu falo ''a gente'', me refiro a mim e às vozes que habitam minha cabeça, tá, queridos? Youtubers... youtubers... sim, Bruna, está acontecendo e faz tempo. Que desgraça essa gente! Ó, pai, por que me abandonaste? Quanto tempo eu dormi? Estamos vivendo uma era de espetacularização tão idiota, mas tão idiota que me faltam palavras, é sério, eu só consigo sentir - como diria o fatídico meme . Não tem a mínima condição de manter a sanidade mental, querendo estudar, trabalhar, evoluir quando pegar uma câmera, do celular mesmo, sair falando um monte de merda e enriquecer com isso ficou tão fácil. Vamos usar um case bem ridículo aqui? Vamos.  Dia desses, esta comunicóloga que vos fala, fazendo suas

Flores no lamaçal de creme de avelã

Tenho feito um severo exercício de autocrítica nos últimos tempos - exercício esse que, somado a um problema pessoal bem pontual, me deixou sem tesão algum de escrever. Mas voltei para uma transadinha rápida e certeira. Um mea culpa inspirado nos velhos tempos - desta vez sem o deboche costumeiro. Realmente quero me retratar. H á alguns meses, q uando escrevi, estupefata de indignações diversas, sobre youtubers, eu nunca estive tão certa do que escrevia. Sigo achando que o Youtube amplificou a voz dos imbecis e vem cooptando principalmente crianças a uma sintomática era da baboseira - entre trolladas épicas envolvendo mães e banheiras cheias de nutella , criou-se um nicho bizarro cujo terreno é a falta de discernimento infantil infelizmente. Só que foi aí que residiu meu erro: reduzir a plataforma a um lamaçal de creme de avelã - e nada mais. Não me ative ao fato de que ali coexistem muitos canais interessantíssimos sobre os mais diferentes ramos do conhecimento hum ano , inclusive