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Ode ao ódio

Vocês sabem, odiar é o nosso esporte favorito. Odiamos o gosto musical excêntrico do nosso vizinho. Odiamos o fato de ele não se contentar somente com os fones de ouvido. Odiamos esperar - essa é clássica. Odiamos fofocas - exceto, é claro, quando somos os leva-e-traz da vez. Odiamos quando começa a chover exatamente no momento em que pretendemos sair de casa. Odiamos internet lenta. São ódios meio genéricos, mas o fato é que odiamos de tudo um pouco. , , o amor é um amorzinho, uma graça, mas outra hora eu falo dele. Hoje, vamos brincar de odiar.
Eu, por exemplo, odeio quando tentam manter diálogos comigo, enquanto luto ferozmente para continuar de olhos fechados - leia-se dormindo. Odeio também de um modo meio infantil e Tarantiano, burocracias de qualquer espécie. Nossa, como odeio. Odeio tanto que amo odiá-las. Já viram essa de amar odiando? Pois é, o negócio é surreal. Claro, meu ódio é ingênuo, coitado, acaba resignado e escondido em alguma gaveta por aí. Mas enganam-se aqueles que pensam que o ódio não pode ser algo produtivo. O meu, invariavelmente, acaba passando por alguma mutação.
O ódio - esse sentimento condenado a viver no ostracismo e temido por toda a família dos pecados capitais - deve ter uma história meio obscura, arrisco. Vai saber por que esquinas anda se manisfestando, hein? Ninguém sabe ao certo. Mistério. E todas as letras lindas que falam de desilusões amorosas, por exemplo? Ouso dizer que há resquícios dele em alguns acordes, algumas rimas. Ninguém pode dizer que não. Quantas vezes morremos de ódio na vida, e, no entanto, seguimos ressuscitando? Sabem, meus melhores textos são dele. Meus melhores choros e momentos de catarse idem. Que me perdoem os cheios de amor para dar, mas, para mim, o ódio é fundamental - em doses homeopáticas, claro, que um felzinho criativo, tal qual o ócio, tem seu valor.


Comentários

Gugu Keller disse…
Conhece uma música chamada "Odeio-te, Meu Amor"?
Texto excelente!
Parabéns!
GK
Bruna Castro disse…
Acho que já ouvi falar...
Poxa, muitíssimo obrigada!
Creio que tu captou exatamente o espírito do texto.
Fico feliz :)
San disse…
é, minha cara Bruna, o ódio, por vezes é fundamental. Nenhuma novela mexicana sobrevive sem o tripé - drama, ódio e paixão. A última, obviamente, mesclada pelas outras 2 tem muito mais graça.
=P
Bruna Castro disse…
De fato, Sandrinha. Não que o ódio tenha que ser o carro-chefe de nossas emoções – seria frustrante – mas ignorá-lo também não dá. Acho ele latino, picante - um sentimento muitas vezes condenado, mas que também pode carregar um potencial extremamente motivador...

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