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Sendo Bruna & fracassando

Fracassar é uma arte. E é a mais antiga do mundo, possivelmente. Fracassar é exercitar nossa bizarra humanidade e, sobretudo, não escondê-la. Quando eu afirmo, copiosamente, numa postagem aqui que estou sendo Bruna e fracassando, quero dizer que estou sendo real, sendo como a Gisele, o Luciano, a colega da frente, a tia da Beltrana. E, se eu estou fracassando, há uma chance bem grande de eu estar tentando. Só fracassa quem tenta. Quase posso ver vossas fuças outorgando minha infelicidade, ao lerem um gerúndio tão indigesto e incompreendido. ''Pobre guria, tem tudo e só passa reclamando... se fazendo de vítima naquele blog idiota.'' Confessemos, é nosso hit parade diário: classificar felizes e infelizes.
O que nós, do alto da nossa lente míope, sabemos de fato da vida de quem nos cerca? Eu diria que muito pouco, ainda que nos esforcemos para deixar todos a par de nossas andanças particulares. A gente sabe muito pouco. A gente, sinceramente, não tem que saber de muita coisa. Não raro, simpatizo bem mais com quem explode suas angústias sem pudor que com os que insistem em protagonizar esquetes de super-humano. Eu sou foda! Eu tirei mais um 10 na prova de álgebra, clique aqui pra ver meu desempenho! Acabei de doar um balaio de roupas usadas no bairro tal, siga meu exemplo! Eu sou um dínamo na cama! Tô pronta pro crime com as gatas, só vai dar nós! Veja bem, pessoas reclamando insistentemente e despejando suas fraquezas realmente são um porre, um saco, um desserviço, MAAAS, talvez, elas sejam bem mais críveis. Bem mais passíveis de serem entendidas, de terem suas almas tocadas. De terem seus defeitos perdoados.
Quando eu digo que fracasso, é porque eu sei ser humana como ninguém. É porque eu sou brasileira. É porque eu seguidamente tenho o hábito de esquecer que me fizeram mal e ficar na minha. É porque eu acredito no amor, mas me sinto uma imbecil por acreditar e não sei lidar com tal contradição, logo, só me resta o deboche. É porque eu sou criança demais quando não devo e adulta demais quando não é preciso. É porque eu sempre perco os horários do ônibus e já poderia ter terminado uma São Silvestre graças ao tanto que já corri atrás deles. É porque me faltam as palavras, quando elas deviam jorrar da minha boca. É porque sofro de verborragia crônica quando tudo que eu devia fazer era emudecer. É porque eu não gosto de best-sellers como A Culpa é das Estrelas e me dá uma raiva que meio mundo goste e me faça ficar sem assunto na mesa do aniversário da cria da vizinha. É porque eu amo sarcasmo e quanto mais eu gosto, mais quero, ainda que me faça mal. É porque eu perco o amigo, mas não perco a piada. É porque eu faço piadas ruins. É porque a existência é uma incógnita pra mim e constantemente me vem à cabeça que não somos mais nada que arrogância em um corpinho brincando de perfeição. É porque eu penso demais. É porque eu não tenho coragem de me declarar. É porque eu idealizo os caras e só me frustro. É porque eu escuto MPB demais e isso não é bom pra sonhador. É porque eu escuto Phil Collins, gritando no escuro tudo que ele fala. É porque eu sou um imã de platonismos entalados na garganta. É porque eu fiz jornalismo e insisto em procurar inspirações literárias em um mundo que prioriza bons vendedores e gerenciadores de crises. É porque eu nasci assim e agora a merda está consolidada. Quando eu digo que fracasso, é porque só me resta torcer pela sorte.


Auxiliou no post:

As coisas tão mais lindas - Nando Reis   






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