Não lembro bem qual a ocasião, mas a pergunta nunca me saiu da cabeça. Numa destas revistas femininas cretinas (provavelmente), lá estava ela: Você prefere ser bonita ou interessante? Percebam a capciosidade da questão, pois, obviamente, uma característica não exclui a outra: é possível ser bonita e também ser interessante. Mas a dita revista mandava escolher. E eu, ainda que não tivesse a feiura como objetivo de vida, sem pestanejar (ok, sem pestanejar pouco), assenti internamente que preferia ser passível de interesse. Nossa, mil vezes. A ideia de ser desinteressante me apavorou a existência - ainda juvenil até ali, porém, reconheçam, dotada de esperteza.
Anos depois, sigo com a segunda opção. Vamos imaginar que realmente as duas condições sejam excludentes, ou seja, ou só se possa ser muito bonitx ou só muito interessante nesta vidinha severina metamorfoseada de Daslu. Qual vocês prefeririam? Claro, aqui não entro no mérito de pessoas bonitas serem necessariamente sempre muito interessantes - ao menos no plano físico e hormonal da coisa. No joguinho que proponho, só se poderia escolher uma - tal qual naquela página muquirana com que topei. Qual seria eleita por vossas senhorias? Trouxe o tema a debate, pois dia desses fui chamada de feia - eu, que me acho até bem jeitosinha. Tô chorando a cântaros desde então. Além disso, andei sendo perseguida pelo assunto quase como rastilho de pólvora nas minhas últimas leituras. E daí a feiosa veio escrever, porque, aparentemente, só restaram-lhe as palavras. É sempre um tema delicado de abordar, porque feio mesmo ninguém quer ser - eis a verdade. Mas, poxa, ser desprovido de potencial interessável... nossa, essa, na minha modesta opinião, é bem mais grave - se é que podemos atribuir gravidade a isso. A lavada já começa na semântica das palavras: bonito é bonito e acabou, até uma parede branca pode ser bonita. Mas ser interessante é algo que, por natureza, interessa. É qualidade que traz entranhado um quê no próprio verbete do dicionário. O interessar mora junto dos pronomes indefinidos: algo ali existe, nem que seja um algo estranho. Cá entre nós: como uma estranheza pode ser sedutora. Sempre tem aquele cara estranho que a gente acha o mais sedutor dos mortais. E ele nem sonha, tadinho.
Não estou dizendo, do alto da minha ingenuidade, que beleza não tem vez. Tem e muita. Gastamos boa parte de nossa sanidade visando a uma convivência amistosa com os espelhos, é triste e é real. Mas, olha, ser desinteressante, digamos que não ter nada a oferecer, ser previsível, ser só mais um rosto trabalhado na Mary Kay e nas Dudalinas da vida não é de sorrir. É bem de lacrimejar, eu diria.
É claro que eu ia resvalar no clichê máximo dos compartilhamentos de tia, mas penso não ter como fugir: é isso aí mesmo, beleza pode ser um estado bem efêmero. Cá entre nós: sempre tem aquelas criaturas que acham-na o suprassumo da conquista terrena. E elas não têm ideia do quão patético isso é, tadinhas.
Auxiliou no post:
Never Ever - All Saints
Anos depois, sigo com a segunda opção. Vamos imaginar que realmente as duas condições sejam excludentes, ou seja, ou só se possa ser muito bonitx ou só muito interessante nesta vidinha severina metamorfoseada de Daslu. Qual vocês prefeririam? Claro, aqui não entro no mérito de pessoas bonitas serem necessariamente sempre muito interessantes - ao menos no plano físico e hormonal da coisa. No joguinho que proponho, só se poderia escolher uma - tal qual naquela página muquirana com que topei. Qual seria eleita por vossas senhorias? Trouxe o tema a debate, pois dia desses fui chamada de feia - eu, que me acho até bem jeitosinha. Tô chorando a cântaros desde então. Além disso, andei sendo perseguida pelo assunto quase como rastilho de pólvora nas minhas últimas leituras. E daí a feiosa veio escrever, porque, aparentemente, só restaram-lhe as palavras. É sempre um tema delicado de abordar, porque feio mesmo ninguém quer ser - eis a verdade. Mas, poxa, ser desprovido de potencial interessável... nossa, essa, na minha modesta opinião, é bem mais grave - se é que podemos atribuir gravidade a isso. A lavada já começa na semântica das palavras: bonito é bonito e acabou, até uma parede branca pode ser bonita. Mas ser interessante é algo que, por natureza, interessa. É qualidade que traz entranhado um quê no próprio verbete do dicionário. O interessar mora junto dos pronomes indefinidos: algo ali existe, nem que seja um algo estranho. Cá entre nós: como uma estranheza pode ser sedutora. Sempre tem aquele cara estranho que a gente acha o mais sedutor dos mortais. E ele nem sonha, tadinho.
Não estou dizendo, do alto da minha ingenuidade, que beleza não tem vez. Tem e muita. Gastamos boa parte de nossa sanidade visando a uma convivência amistosa com os espelhos, é triste e é real. Mas, olha, ser desinteressante, digamos que não ter nada a oferecer, ser previsível, ser só mais um rosto trabalhado na Mary Kay e nas Dudalinas da vida não é de sorrir. É bem de lacrimejar, eu diria.
É claro que eu ia resvalar no clichê máximo dos compartilhamentos de tia, mas penso não ter como fugir: é isso aí mesmo, beleza pode ser um estado bem efêmero. Cá entre nós: sempre tem aquelas criaturas que acham-na o suprassumo da conquista terrena. E elas não têm ideia do quão patético isso é, tadinhas.
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