Escrever sobre amigos requer uma carga alta de nostalgia e manteiguismo derretido, mas não estou me sentindo necessariamente assim hoje (aí reside o problema destas datas encomendadas: nem sempre o coração acompanha a pedida do calendário). Todavia, vou levar a pauta adiante, por pura falta de originalidade. Os migo... ah o que dizer dos migo? Os migo são essa entidade, essa sorte, esse azar, essa corja, essa legião. Todo mundo diz que tem os melhores, mas eu, só para dar uma sacaneada, direi que os meus são bem meia-boca. Será que eu ainda os tenho? Amigo é tipo objeto que a gente guarda na gaveta e diz que é da gente para sempre enquanto tiver pilha? Que piadista euzinha. Eu também não sou lá essas coisas... veja bem, eu vivo furando encontros, quase sempre estou atrasada e não sei agradar. Como assim agradar, tia Bruna? Ah... sei lá, menino, não me peça detalhes que eu não sei falar sobre mim. Mas será que os outros sabem? Não é bizarro que pessoas muito próximas nos conheçam tão pouco, às vezes? Será que nos mostramos distintamente para um e outro, e por isso essas dúvidas nos perseguem? Dia desses, um amigo falou que roxo é minha cor preferida. Fiquei desconcertada, porque todo mundo sabe que é vermelho. Bom, mais desconcertados ficarão vocês quando eu disser que ninguém falou nada, inclusive, além de não saber agradar, eu não sei falar a verdade, ainda que, quase sempre, opte por ela. Penso que ser amigo é optar por clareza, por mais que, depois da luz acesa, não se vejam sorrisos.
Tem amigo que anima de um jeito sobrenatural que só ele sabe - e possivelmente nem saiba que sabe -, em contrapartida, não sabe brincar e se magoa com facilidade. Em resumo: é gente boa, mas é chato. Tem amigo que é Bruna, mas o que importa é ter saúde. Tem amigo que é ótimo sóbrio, mas seria uma benção se emudecesse quando bêbado. Tem amigo que só se aguenta bêbado. Tem amigo que nem sabe o quanto é teu amigo. Já tive amigas de fila de banheiro que foram mais aprazíveis do que gente que estudou comigo. Tem amigos e amigos. Tem amigo que, por mais que se faça um esforço, não cabe no teu momento. É, sabe aquele momento? Pois é, exato. Tem amigo que é melhor em silêncio. Tem amigo que é melhor na lembrança da foto. Tem amigo que vive no teu cotidiano, mas não te respira. Tem amigo que é realidade demais e te faz mal. Tem amigo que é sonho e isso te ajuda de maneira monstruosa a atravessar os dias. Tem amigo que dói. E tem amigo que, mesmo que a gente queira, não sai.
Auxiliou no post:
Laughing with - Regina Spektor
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