Não vou resvalar no clichê de dizer que ''minha mãe é a melhor do mundo'', isso é uma falácia ridícula. Mas, sem dúvida, ela é a melhor que eu poderia ter neste mundo - muitas vezes sem ser digna de tal. Sou abençoada. Só que, segundo ela, eu faço por merecer tudo de maravilhoso que ela faz. "Eu amo meus filhinhos amados'' - ela diz, como que tentando justificar todas as renúncias que fez e faz por mim e meu irmão. E eu rio condescendentemente porque sei que filho também sabe ser bem cruel quando quer. E seguimos neste equilibrar de fraquezas e erros com um balaio de amor e cumplicidade. Porque, apesar das diferenças evidentes, somos cúmplices. E falamos com vozes de criancinha. E eu, passional que nasci, falo tudo que me vem à cabeça com cobertura de chocolate. E chego a enjoá-la de tanto açúcar. Eu enjoo todos, vocês sabem.
A gente não tem uma relação perfeita. A gente já brigou muito. Felizmente, esses tempos ficaram na adolescência, aquela demônia, e hoje em dia quase podemos brincar de perfeição. Atualmente, mais politizada e consciente do meu papel, eu tolero mais, eu converso mais, eu escuto mais a minha amada. Eu trato de fazer valer todo o amor com que fui recebida naquele domingo de 1989 - ensolarado e lindo, como ouvi dizer. Eu trato de ensolarar os dias dela com piadinhas bobas e camas arrumadas, que este capricórnio é uma coisinha irritantemente organizada e avessa a bagunças. Para ela, também não deve ser fácil conviver com um leãozinho imaginativo, preguiçoso - que quer brilhar sem trabalhar muito - e que tem tendência suicida de brincar com a paciência e os horários alheios. Aliás, tem isso: mamãe é insuportavelmente pontual. ''Tu tem que viver com mais aventura, mãe!'' - eu digo. E a gente cai na risada, porque sabemos que nenhuma de nós vai mudar. Mas a gente se ama. Muito. Demais. Incondicionalmente. E se ajuda, se fortalece, principalmente, porque somos mulheres e entendemos como é ser e vivenciar toda a construção social que deriva disso. Eu empodero minha mãe todos os dias. Mais que tratá-la como uma divindade - que embora eu suspeite que ela é, tamanha dedicação -, eu aprendi a enaltecê-la como sujeito de sua história. Eu escondo aquelas revistas femininas que ela compra, digo que ela é linda e não precisa delas. Ela me xinga e diz para eu parar de ser chata. Eu digo que minha chatice é crônica e necessária, e ensaio um papo cabeça. Ela ouve e arremata: como tu fala bonito, Bruninha! O que seria da minha autoestima jornalística sem essa linda? O que seria de mim sem esse colo que parece me blindar, de maneira sobrenatural, de todo e qualquer mal? Eu seria algo, com certeza, mas possivelmente alguém vazio, alguém opaco e sem vida.
Eu simplesmente amo como ela sabe ser prática e eficiente em tudo que faz, ao contrário de mim, que sou uma lesma e me distraio até com a brisa passando. E amo o fato de ela ter uma espécie de coringa para me consolar sempre que possível - os coringas mudam, mas geralmente atendem pelo nome de ''presente'', do latim agradaris filhes adultis mimadis. E pior que eu nem sinto vergonha. E se não é problema pra mim, não é pra mais ninguém.
Mamãe e eu adoramos ABBA, mas eu queria que dividíssemos mais bandas, aquelas barulheiras que eu escuto e vão ''me deixar surda''. Porém, em algo somos convictas: Crazy, cantada pelo Julio Iglesias, é uma coisinha muito desestabilizadora. Eu fico com os roquinhos e ela fica com as tentativas de me fazer tirar ''aquela merda dos ouvidos'', essa linda, que sabe bem a teimosia que carrego no sangue.
Minha mãe é um doce, um amor, um coração maravilhoso, é o meu coelhinho de estimação, minha terapeuta, minha paz, minha filhotinha, meu amor. Meu irmão e eu somos muito sortudos na vida por ter alguém tão iluminado ao nosso lado. Feliz dia, minha baby galota. Mesmo que seja um dia babaca e comercial e que a gente não precise dele para sentir o laço indescritível que nos une e.........
OK, PAREI.
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