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MERITOCRACIA MY ASS

Ando pensativa sobre meritocracia, merecimento, no pain no gain, fika grande porra, cresce caralhNÃO PERA ME PERDI

Voltemos. Eu ando meio incomodada com algumas coisas que vejo por aí - no Facebook, claro, principalmente, porque é ali que a vida acontece - e isso tem me martelado na cabeça. Assim, a gente sabe que merece as coisas, né, poxa, todo mundo merece ser feliz, blá, blá, o sol nasce para todo mundo, ok. Só acho muito curioso que os outros outorguem merecimento a nós. Sério mesmo? A sensação que me dá é que há uma linha divisória entre os que merecem ser felizes e os que não merecem - tudo porque alguns conquistaram um diploma, por exemplo. Ok, um diploma é muito válido, mas convenhamos, muitos de nós que temos um não fizemos mais nada que nossa obrigação, isto é, honramos a caminhada de ter recebido tudo de mão beijada sempre. A ordem natural era essa, não tivemos que sair muito da zona de conforto de termos nos desenvolvido sem grandes traumas. Quer que desenhe? Nunca passamos fome, tivemos teto e cobertas quentinhas, tivemos bons genitores dedicados ao nosso redor, estudamos em escolas razoavelmente bacanas, brincamos saudavelmente..... aquele arroz com feijão básico, mas que muitos por aí não têm ideia do que seja. Eu, por exemplo - só pra vocês não saírem falando que eu aponto o dedo pra vidas que desconheço - tive, tirando algumas chatices comuns no percalço, um desenvolvimento muito sadio e uma vida muito da mansa até hoje em dia. Não falo isso de maneira esnobe, por favor, mas só a fim de ilustrar o ponto onde quero chegar. Muito do meu círculo social e das amigas com quem me relaciono idem. Logo, eu pergunto: qual o meu mérito em ter um diploma, ser uma pessoa decente, essas coisas? Eu não fiz nada mais que o esperado. Parabéns pra mim, valeu, mas ahh não vem comentar em foto minha que ''eu mereço muito'', ''eu sou uma vencedora''. Caro meritocrata, vai tomar no cu.
Dia desses, eu e umas amigas comentávamos sobre um menino que estudou com nós e era conhecido por ser um boçalzinho. Conhecido por nós, claro - já ele, se achava um rei e um rei muito amado, como não. E pior que no perímetro sádico do colégio - aliás, tal colégio era privado, guardem as pistas - ele era realmente. Hoje em dia, ele está bem colocado, é um figurão, um vencedor na vida, isto é, na linguagem dos yuppies de plantão do Patrick Bateman. Mas nós, que convivemos com aquela joia, sabemos bem o cuzão com quem estudamos. Um cuzão inofensivo, claro, pagador de seus impostos e cidadão de bem, mas que atualmente bate panelinha e vai pra rua. Um protótipo nato daqueles bichinhos que são criados em escala industrial nas escolas particulares deste Brasilzão. Mas, sabe, não me entenda mal, ele é merecedor de todo o sucesso de hoje. Eu realmente não acho que ele esteja onde está em virtude de um possível prestígio paterno. Seu diploma ainda deve guardar o suor seco dos dias de sacrifício que possivelmente atravessou. Trata-se de um futuro digno para um rei que sempre foi. Impossível este texto não soar rancoroso e - dada a miopia interpretativa dos que às vezes me leem - invejoso. Eu vou ter que correr o risco, sabe? Meritocracia my ass.





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