Penso nunca ter falado exclusivamente sobre religião, fé, Deus e afins aqui. E, bem no fim, me inspirei, após ter escarnecido lindamente no Twitter de fotos - as chamadas selfies - em que as pessoas citam versículos bíblicos. Se eu fosse alguma coisa de prestígio na vida, eu estaria em O Globo, n'A Folha dando entrevista e tentando contornar a polêmica. Mas como eu sou um nadinha - um nadinha de muito potencial, é bom que se diga -, vou aproveitar minha total anonimidade e deliberar. Selfies com citações religiosas são bizarras. São ridículas. Eu rio pra caralho. A selfie, antropologicamente falando, já carrega um teor de ridículo e presunção, convenhamos. Já postei selfies? Claro! Quem nunca? Mas tenho noção da gama de construções que isso envolve. Eu, ali, me vangloriando de mim mesma e do meu sex appeal questionável, não deixo de ser uma caricatura de mim mesma. A gente é ridículo por natureza, não há por que temer. O problema reside, na minha opinião, em realmente se achar grande coisa ao postar uma foto de um rostinho perfeito, de um corpinho conseguido com muita privação e Whey Protein. Que foco, força e fé o quê, cara? Cê não descobriu a cura do câncer, relaxa aí. Cê só se disciplinou, coisa que qualquer mortal com um mínimo de teimosia e estratégia faz. Beleza. Agora, foto da fuça com citação bíblica realmente desafia meu entendimento da vida. Quer dizer, partindo do que está no livrinho sagrado, o egocentrismo não iria contra toda uma vida de exemplos que Jota Cê nos deu? Jota Cê era humildão. Jota Cê abominava as frivolidades a que a carne humana se prestava, logo, não consigo não problematizar. Elas realmente me aterrorizam. Eu não consigo resistir, pessoal. Rezem um terço pela minha pequeneza espiritual, se a errada for eu.
Voltando ao que foi dito na entrada deste texto... e caso você tenha aguentado aqui, eu realmente não me considero ateia. Sem religião, talvez. Porém, eu acredito em algo superior. Não em um cara barbudo e de olhos azuis, como Hollywood adoraria que fosse. Mas deve haver algo do lado de lá. Para mim - eu digo PARA MIM -, a ideia de algo que continua em outra dimensão me traz paz interior. Acredito em lei do retorno. Acredito em bem, em escolhas e que tudo que fizemos tem uma consequência que ecoa por sei lá quanto tempo. Acredito em empatia e desprendimento. Acredito em Deus? Sim. Apesar de que, como diria Atahualpa Yupanqui, é seguro que
ele almuerza en la mesa del patrón. Eu tenho muitos questionamentos dentro desta cabeça castanha, a
propósito até da letra que citei. Mas já rezei e rezo sempre que me encontro
atormentada, e sei lá para quem direciono minha fé. Padres e pastores não fazem
meu tipo, e eu os respeito tanto quanto um sorvete de casquinha, ou seja.
Igrejas idem. Fui batizada, fiz eucaristia e crisma, mas sei lá, muita coisa
que a turma do Vaticano pregou e segue pregando me dá vontade de vomitar.
Cristianismo e Inquisição, por exemplo, é um caso de amor que não me desce. Ah,
claro, vomito como boa cristã, na surdina. Não concordo que religiões governem
a vida privada das pessoas e que seus representantes tenham tanto poder
político nas mãos - poder este que, aliás, interfere na validade de direitos
civis de outros grupos. Serei eu uma menina má? Só o tempo dirá. Quando eu
passar para o lado de lá, volto pra contar como é e se estou sendo muito
castigada. Mas, por enquanto, seguirei rindo das fotos. Com gosto.
*Falei essencialmente sobre Cristianismo aqui, por ser a doutrina a que fui apresentada desde cedo e com a qual tive relação por muito tempo na vida.
Comentários