Eu tenho um amor da vida e o nome dele é Leonardo. É o
meu caçula, o meu bebê, o meu melhor amigo, a minha metade, o meu melhor e o
meu pior. Eu sou apaixonada pelo meu irmão, trata-se de um
platonismo alimentado diariamente. Eu amo a risada gostosa dele, eu amo seu
talento tímido pro piadismo, eu definitivamente sou mais feliz quando rio com
ele. E disso nós dois entendemos: quando estivermos muito sérios, desconfie.
Mamãe diz que fui eu que o batizei, porque eu era uma
entusiasta da já encerrada dupla, brejeira e graciosa, Leandro & Leonardo. Então, quando ela perguntava como eu queria
que meu caçulinha fosse nominado, eu devia soltar algo como um Linardo ou Nunado, porque o fato é que quando a criaturinha chegou, lá nos
idos de agosto de 1992, o nome já estava certo. E aí fomos apresentados. O
danado quase nasceu no meu aniversário de 3 aninhos, percebam como é uma
ligação curiosa e indissolúvel. Naquele ano, eu não tive festinha nem parabéns
em volta de uma mesa decorada, todavia ganhei o melhor presente da vida, do
mundo, de tudo. E aí, seguimos nos reconhecendo um no outro, crescendo juntos,
nos estapeando vez que outra – porque o amor tem dessas coisas, claro – até chegarmos
à fase adulta – isso de que, francamente, nenhum de nós é muito fã: a gente
insiste nessa roubada de deixar uma certa criança arisca viva, espero que isso
nunca morra.
A gente se xinga demais, a gente se ama e se odeia na mesma
fração de segundo, mas a gente é de coração. Sangue é uma coisa muito feroz
mesmo. Tanto, que, quando a minha cria sangra, eu sangro junto, não tem jeito.
A gente já se fez sangrar também, acontece, mas estamos cientes de que
cicatrizar as coisas também é aprendizado de uma vida inteira. E é possível que
estejamos indo bem no processo, viu.
Eu sou sanguínea, o Léo, cerebral. Eu sou imediatista, o
Léo, estratégico. Eu sou efusiva, o Léo, reservado. Eu sou teatral, o Léo
também, mas se controla. Nós dois somos orgulhosos. Nós dois amamos a vida, mas
eu mostro de um jeito bem ridículo – já o Léo é elegante, tenho certa inveja
disso. Eu ensinei Português pro Léo. O Léo me ensinou a não usá-lo muito em momentos
de raiva. Eu amo sacaneá-lo na frente de parentes, porque ele fica com uma
carinha linda de quem não sabe onde se enfiar de tanta vergonha. Ele, em
contrapartida, ama me mandar calar a boca, porque quase nunca aguenta meus
monólogos e minhas tentativas de tentar debater a estratégia daquela propaganda
tal de carro. Eu sou das sociais, das humanas, o Léo, das exatas. Já o nosso
amor é bem exato e humano, passa fácil por cima dessas diferenças acadêmicas.
-
Gostou dessa música, Léo? Catei numa trilha de filme.
-
Não, parece de velório. Não sei como tu escuta isso.
- Ah
vai se catar!
-
Bah, mas tu escutando Caetano? Tinha que tá caindo um dilúvio mesmo.
- Ha
ha como tu é engraçadona.
Provocações de amor me interessam, me interessam. Irmãos
sempre serão crianças, e Seu Leonardo sempre será a minha.
Auxiliou no post:
(Just like) Starting Over – John Lennon
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