Dias atrás, fui comer um hambúrguer com fritas daquela franquia. Sim, daquela. Eu ali, com aquele laconismo de dar inveja, me perguntando por que raios estava há uns 25 minutos esperando aquele combo de gordura e conservantes descerem minha laringe num ato quase sexual. Valia a pena? Pior que vale. Na minha frente, um pai com sua filha, que devia contar não mais que 3 anos. E aí que eu comecei, mesmo sem querer, a dispensar atenção ao papo unilateral dos dois.
- Filhinha, qual bichinho tu vai querer? O da casinha? Qual, filha?
- Me dá, pai, me dá...
E a cria ali, ensaiando um muxoxo, um nhem nhem nhem, uma gritaria, qualquer coisa, menos uma resposta que se espera de alguém que possua discernimento.
- Moça, tu guarda meu lugar rapidinho pra mim (sic) ir ali ver qual brinquedinho ela quer?
- Vai lá... de boa...
Fiquei observando os dois, o mala da fila em especial. Uma pessoa adulta, criada, lúcida, totalmente algemada pela fofura de um inocente, porque, sim, não discordo: estes inocentes que vocês adoram parir sabem ser fofos e mágicos. Um pai totalmente abestalhado pela doçura de seu filho. Fiquei ali, morrendo de amores e medo, pensando naquela fatídica entrevista que eu li uma vez do Içami Tiba - precocemente falecido ano passado. Sábias palavras as do homem: "criar qualquer um cria; educar é mais trabalhoso". Educar envolve essa coisa fantástica de pensar que você está deixando para o mundo um legado em forma de ser humano, e não uma criancinha adorável para admirar na estante. Bom seria, eu sei, mas não é. Vocês que amam ter filhos já devem ter tido a revelação: vocês têm eles para isto que chamamos de mundo, não para deleite pessoal.
Crianças não têm muito que querer, basicamente. É horrível falar assim - sorry, mommies!! - mas até certa idade elas são somente bichinhos que têm vontades aleatórias. E bichinhos que só sabem ter suas vontades atendidas, quando crescem podem ser bem danosos para a sociedade. Não é preciso ser Içami Tiba para sacar isso, qualquer cérebro médio consegue. É sempre muito desagradável assistir a adultos indefesos diante da birra de um filho - um filho que esperneia e chora a cada negativa diante de uma vitrine. Eu poderia dizer que não tenho nada com isso, massss... mas no momento em que lembro que essas crianças logo, logo, serão adolescentes irritantes (como todos fomos) e mais logo ainda, adultos desenvolvendo suas relações com outras pessoas e vivendo em meio a toda sorte que o fato de estar na terra proporciona, me dá uma angústia. Sei lá, daqui a pouco elas vão ir pro colégio, essa entidade responsável por cerca de 90% dos nossos traumas, e daí? Como vai ser? Vão sair pisando em todo mundo igual àqueles filmes americanos sobre líderes de torcida? Olha, tem pai e mãe por aí que criam reizinhos e rainhas, e bem... como todos sabemos, aristocratas costumam ser execráveis. Que Ganesha nos ajude.
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