Eu não vim aqui para despejar um balde negativo de neuroses em vocês – ao menos não deliberadamente. Mas, pra mim, é meio inevitável acenar o ano novo com um conhecido espírito resignado, malandro velho, ciente de que vai fazer muito pouco ou nada diferente. Não me leve a mal, eu não quero colocar areia na sua listinha feliz de metas, mas quem é que se leva realmente a sério aqui? Ah, vai se foder, sai da minha casa.
Com esse título-drama-queen, até parece que eu enumero
coleções e coleções de cagadas a cada ano. Cagadas tipo filhos, casamentos, corpos escondidos em freezers, papelotes de cocaína na bolsa ou trepadas com o namorado da melhor amiga. Que
nada, tô é existindo aqui com 26 anos, num bom-mocismo de dar tédio, louca de
vontade de tosar o cabelo e morrer de overdose de sentido. Mas eventualmente
cometendo, ora pois, cagadas por aí. Cagadinhas, sabe. Nada que deponha muito
contra essa minha índole apegada a provincianismos, já que são contra mim
mesma. Mas é como se elas estivessem arraigadas, fixadas com cola quente no meu
esqueleto, como se gritassem em uníssono depois de dar meia-noite: “você não
deixou de ser vocêêêê, heinnnnnnn’’. Bela torcida tenho eu.
Cagadas do tipo dormir tarde toda santa noite e querer
morrer com um tiro à queima-roupa quando o despertador toca na manhã seguinte -
aliás, essa creio ser partilhada por grande parte da audiência. Como nos
curarmos, irmãos? Como nos libertarmos, se a madrugada parece tão mais
convidativa para viver e ser criativo, bolar planos e ser feliz?
As cagadas, elas são assim desde sempre, mas atravancam
toda uma existência. Eu queria parar de me drogar (ler Claudia Tajes e tomar Coca). Eu queria parar de fumar
lembranças antes de dormir e tragar esse veneno que até faz bem na hora, mas
entorpece meus neurônios burros de esperanças vazias. Eu queria parar de tentar
entender essas noites em que tudo parece se encaixar e vêm, lépidas, como
presentes para quem se comportou bem, mas amanhecem rápido demais. Os dramas
dos começos sempre são essas expectativas horrorosas que começam a corroer
nosso discernimento e nos levam a crer que será diferente, qualquer coisa,
qualquer algo. Bom, talvez seja, vamos ser um pouco ingênuos por ora. E fingir
que viramos outras pessoas.
Auxiliou no post:
Shoulder to shoulder - Little Joy
Comentários