Aconteceu há algumas horas. Quando vi, pulava de perfil em perfil, imersa em um mundo que não é o meu, mas é realidade de alguns poucos abastados desse Brasilzão varonil. Não é de hoje que sabemos que redes sociais são uma ilusão muito bem arquitetada para nos odiarmos - nós e nossas vidinhas prosaicas. Só que, às vezes, essa ficha cai como um soco na cara. Maldito Instagram.
Sou uma pessoa demasiado reflexiva - talvez isso vá na minha lápide, vamos torcer - e qualquer mínimo pensamento meu, não raro, desencadeia uma curto-circuito de impressões e revelações - aqui jaz um cérebro doente. Bom, a de hoje é sobre essa vida de faz de conta da confraria de imagens citada. Essa a que aderimos porque não queríamos ficar fora da onda, e, bem no fim, o aplicativo estava tão à mão na tela do celular... essa que alimentamos com fotos previamente produzidas e cheias de efeitos. Meu Deus, o que nos tornamos? Um bando de ostentadores. Ai... isso me parece tão, tão problemático que me corrói. Assim, não me entenda mal, ninguém quer ser visto numa pior - muito menos eu, humana que nasci - mas já era para termos evoluído quanto a esse pecado do exibicionismo (cá entre nós, essa busca é tão cristã e esperada, que Jesus deve estar às lágrimas lendo esse texto). Eu sei, eu sei, dá um prazer supremo, quase sexual, postar uma foto naquele camarote caríssimo - quem quer ser visto em casa no sábado à noite, afinal? Ou postar destinos ricos e barrigas chapadas com frases de efeito que fazem parecer tudo tão simples só porque algum afortunado com uma fé inabalável acreditou que era possível. Eu sei que é legal, é da horíssima. O porém que me arrasa é vivermos num país ainda tão miserável e subnutrido. Sim, esfregar essa felicidade plástica nas fuças alheias me soa cruel, desnecessário. Será que estou falando tanta abobrinha assim?
Não é o fato de as pessoas que jogam no Dream Team do Insta serem desprezíveis e ruins - na maioria das vezes, elas são incrivelmente bacanas e do bem: pagam seus impostos, dizem por favor e compartilham imagens espíritas. Elas são umas fofas, só estão perdidas. E estão deixando alguns olhos que as observam, à margem, doentes de ódio. Dá para sacar onde eu quero chegar, né? Pois é, os esfarrapados não costumam dialogar.
Tudo na nossa vida perpassa relações de consumo. Tudo. Repitam comigo: t u d o. Somos um catálogo ambulante de escolhas monetárias, sociais, de linguagem e o escambau. Estamos diariamente emanando uma mensagem ao mundo, e não sei se tem muito sentido pedir mais essência e menos aparência marcando a arrobinha da marca de bolsa que custa um salário mínimo. Beber chope no barzinho tal da Lapa, check-in no Aeroporto Charles de Gaulle, partiu Xangri-lá, sushizinho top com os melhores... e se lacrássemos mais no escuro do anonimato? Ou, quem sabe, em menores proporções - só uma vez por mês, digamos - para os outros não se sentirem tão lixo por estarem comendo um reles prato de arroz e feijão? Calma, menino Je, não precisa chorar.
Charles de Gaulle is judging you
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