Sim, eu gosto dela, da Olimpíada. Eu amo, eu entro em parafuso, choro, me descabelo. Lá se vão 20 anos acompanhando. Em Atlanta, 1996, nos primeiros jogos de que tenho recordações, lembro o arremate nos cadernos de esporte das leituras entusiasmadas do primeiro ano escolar. Na manchete do jornal: Gustavo Borges, a lenda das piscinas. E eu sentadinha no chão do escritório de casa - os olhinhos admirados, curiosos, com um horizonte todo pela frente. Acho incrível como essa lembrança segue viva na minha cabeça. Nostalgia boa.
Eu gosto de esporte desde que me conheço por gente (e não, eu não falei em futebol, seu fanático, mas de qualquer um). Felizmente, sempre tive facilidade em aprendê-los, logo, não houve uma competição em que eu não tenha me metido nos fatídicos anos escolares. Os coletivos sempre foram minha menina-dos-olhos, e o fato é que todo fracasso-social-nem-um-pouco-transante da pior época de nossas vidas acabou sendo transmutado em medalhas. Medalhinhas de latão, material da pior qualidade e das melhores lembranças de adrenalina - aquela que ensina a viver e a lutar, não desistir. Eu desisti algumas vezes, quando os times adversários eram infinitamente superiores, mas também senti o incrível gosto de vencer tantas outras mais. Certa vez, no auge da minha adolescência, vi minha compleição física mediana sucumbir à força alheia e chorei - o deboche conhecido das competições emergindo, pernicioso, na torcida. Calei algumas bocas, fui ameaçada (quem nunca foi jurado de morte em um jogo entre colégios, que atire a primeira pedra), mas no fim daquele dia os roxos das pernas me venceram. Paciência, não se pode ganhar todas, ''só me aguardem no próximo jogo''. E o jogo seguinte sempre chegava, e a Bruna velha de guerra e dos joelhos ralados contava um novo capítulo de sua história anônima, nem que fosse para si mesma.
Então, em época de jogos olímpicos, fico especialmente comovida e à flor da pele, pois os simbolismos são muitos. Toda essa coisa de defender uma bandeira, ainda que poucos conheçam sua cara, sua luta e suas renúncias, me faz pensar em muitas coisas. E inevitavelmente me emociona, choro rios de hinos nacionais. Me entrego de verdade. Seguidamente, me questiono: para que raios serve uma olimpíada, além do ônus econômico que muitos insistem em bradar insistentemente? Talvez ela sirva para fazer seu dia mais feliz, por mais ridículo que pareça. Talvez ela salve um momento, mude uma perspectiva. Talvez aquele atleta que não desistiu seja você amanhã. E talvez aquela final olímpica de vôlei masculino, em 2004, tenha feito aquele ano horrível ser um pouco melhor de atravessar. Fez muito. De coração, obrigada.
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