E eis que ficou com cara de nada olhando para a porta da redação barulhenta do jornal, onde, geralmente, escrevia seus poemas secretos. Foi rápido, mas, de repente, já não estava mais ali. Malagueña Salerosa tocava distante, ainda que claramente audível. Foi aí que tudo fez sentido. Descobriu estar trajando um vestido preto, dono uma generosa fenda, carregar uma flor vermelha entre os cabelos revoltos e negros e estar sendo embalada por um gentil cavalheiro, cujas feições brincavam com seu discernimento - não sabia de quem se tratava, mas até que funcionavam bem juntos. Ele dançava com ela, que dançava com os olhos amendoados e promissores dele. Havia uma plateia de curiosos em volta, mas já estavam de partida. Daqui a pouco, ali, seriam só aqueles petulantes e a luz como cúmplice. A música parecia não ter fim, o momento pedia para ser congelado - poucos merecem ser eternos nessa vida, e aquele precisava.
A letra, ainda que contasse o lamento de um amor fadado ao insucesso, inundava de alegria dois corações. Tais corações, perdidos no labirinto um do outro e naquela melodia hispânica incandescente e fascinante. Talvez estivessem em Málaga ou em um lugar sem nome, que só existisse para eles. Olhou para o lado e teve um sobressalto: o moço dos movimentos habilidosos fugira. O olhar, de imediato, o procurou por entre os rostos estranhos e os feixes de loucura ainda imponentes na multidão. Busca infrutífera. Queria mais um pouco dele. Queria girar sincronizada outra vez. Recuou num querer fingido que gritava o contrário e pedia por acordes mais reveladores. Até que as mãos colaram-se novamente, era tudo verdade. A canção sedutora tocou para sempre. Contudo, o fulgor não impediu o regresso, emburrado, à sala apática de outrora. Por Dios, madrecita! Tô atrasada para fazer a entrevista! - gritou, entre gravadores e leads raivosos.
A letra, ainda que contasse o lamento de um amor fadado ao insucesso, inundava de alegria dois corações. Tais corações, perdidos no labirinto um do outro e naquela melodia hispânica incandescente e fascinante. Talvez estivessem em Málaga ou em um lugar sem nome, que só existisse para eles. Olhou para o lado e teve um sobressalto: o moço dos movimentos habilidosos fugira. O olhar, de imediato, o procurou por entre os rostos estranhos e os feixes de loucura ainda imponentes na multidão. Busca infrutífera. Queria mais um pouco dele. Queria girar sincronizada outra vez. Recuou num querer fingido que gritava o contrário e pedia por acordes mais reveladores. Até que as mãos colaram-se novamente, era tudo verdade. A canção sedutora tocou para sempre. Contudo, o fulgor não impediu o regresso, emburrado, à sala apática de outrora. Por Dios, madrecita! Tô atrasada para fazer a entrevista! - gritou, entre gravadores e leads raivosos.
Comentários
eu já tava embarcando na história, imaginando cenas hots hots hots para os próximos parágrafos! Mto bom, Bruna! Adorei!