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Da série: diálogos agridoces

MOONLIGHT SERENADE

- Quero ficar com esse teu moletom puído hoje. Me dá? Me dá?
- Mas por quê?
- Porque eu não posso te acorrentar aqui comigo, então quero, ao menos, um souvenir... para atravessar os dias longos que vêm por aí.
- Adoro teu senso de humor trash.
- E eu adoro a tua combinação de barba milimetricamente mal feita mais moletom mezzo adolescente/mezzo adulto, fazendo um estrago desgraçado nas minhas retinas.
- Vou ficar mal acostumado com tantos elogios.
- Tu merece. Ou melhor, não merece, mas quem decide sou eu.. cala a boca e tira a droga do moletom.
- Chega de brincadeira. Eu preciso ir...
- Vai, mas deixa o fofinho do capuz. Enfim, se não quiser se desfazer dessa peça de roupa, que tem estranhos poderes sobre mim, aliás, a ideia do acorrentamento ainda segue atazanando meus instintos... que tal?
- Não dá. A gente precisa voltar para o mundo real. Contingências diárias gritam lá fora.
- Droga! Jurei que poderíamos ficar por Neverland dessa vez...
- Hum, então quer ser minha Alice, tipo, para sempre?
- Quer parar de confundir Peter Pan com Alice no País das Maravilhas e me beijar, tipo, para sempre? Não levo mais fé nos teus papos sobre eternidade.
- Mas me intimou a te beijar até o fim dos tempos. Sabia que eu também adoro tuas contradições?
- Uma hora tudo vai acabar. Sempre acaba.
- O quê? Tuas contradições?
- Não, o beijo, tuas declarações e Moonlight Serenade, que tá tocando ali naquela salinha de espera e me lembra do dia em que nos conhecemos. Quanto às minhas incoerências... poxa, te fizeram vir até mim, não quero mudar.
- Peraí, que papo é esse de Moonlight Serenade? Tu nunca me falou disso.
- Por que será? Glenn Miller, certamente, se reviraria no túmulo, quando eu te contasse e tu debochasse do meu romantismo barato de guria da década de 40.
- Esqueceu que eu curto Coltrane e Chet Baker? É linda.
(silêncio)
- Eu ou a música?
- A música, mina! Tu é irritante... ainda mais com esse arzinho de quem tá certa que vai ficar com meu moletom preferido.
- Viu? Se ficássemos presos a correntes, seria mais fácil.
- Fácil de te matar, né?
- Sabe, a intensidade do som do sax nos meus ouvidos é diretamente proporcional à paixão com que eu te observo no momento.
- Vai contar ou não o motivo da lembrança?
- Óbvio que não. Se não, a magia toda se esvai.
- Gracinha!
- Ah, sei lá, a composição é velha. Vai ver é porque eu teimo em acreditar que nosso lance é de muito tempo atrás. Mistérios...
- Tá, tu é linda também. E prolixa como ninguém...
- Ih, acho que tu perdeu o avião, meu amor. Não precisarei mais apelar para medidas carcerárias.


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