Sim, mulheres gostam de detalhes. Não nos perguntem por que, rapazes, apenas é assim. Detalhes são do sexo feminino, não se iludam com o artigo. Detalhes grudam na massa cinzenta e não há quem dê jeito nisso: uma vez processados pelo cérebro, está feita a droga. Detalhe guardado é açúcar escorrendo do livro de romance na hora de ler. Devanear torna-se tarefa fácil.
Ela nunca disse, mas lembra até hoje da sua carinha ciumenta quando comentou que o primo lindo dela passaria as férias na cidade. Ela lembra da camiseta branca que você usou naquela festa e o fez parecer o cara mais irritantemente gostoso da face da terra. Ela lembra daquela noite terrível de inverno, em que você sorriu do jeito mais enigmático que os olhos dela poderiam testemunhar. Ela lembra de todas as suas gírias - de quem passa mais tempo na rua do que em casa, sob os cuidados da vovó. Ela lembra da sua mania antiga de olhar fixamente para alguma coisa no horizonte como se quisesse abraçar o mundo.
Detalhes são adereços, são sorrisos pela metade encobertos pela timidez. Detalhes são cores em dias que insistem em ser cinzas, são risos que escapam quando o silêncio impera no ambiente. Detalhes são datas que se perderam no calendário, mas alguém ainda comemora. São companhia em noites solitárias e chuvosas. Detalhes permanecem, detalhes criam raízes no inconsciente, detalhes são rascunhos de algo maior que pode ou não ter dado certo. Detalhes são frios na barriga que não conseguem ser disfarçados. Detalhes são obscenos em sua natureza, pois tiram a roupa da fragilidade que tanto procura se esconder.
São peritos em dissecação, pois expõem fraquezas, contam segredos, gritam verdades sufocadas. Detalhes são protagonistas de sonhos, algozes de noites mal dormidas. Detalhes sempre têm morada dentro de nós, de certa forma, relacionam-se com o mistério de cada um. Os detalhes rondam e não nos deixam em paz, pois, no fundo, apresentam minuciosamente todos os pedaços de que somos feitos. E isso sempre atordoa um pouquinho - querendo ou não.
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