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Não se apaixone, vá tomar banho

- Pode parar, Bruna, tu que é a mais chata com vírgula e não sei o quê, nem deu bola que o guri escrevia tudo errado? Quem é que “brochava” com falta de capricho gramatical e bla bla bla? VAI TOMAR BANHO



           E depois dessa frase malcriada proferida a mim, fiquei a pensar em como elegi, durante certo tempo, critérios a caras bacanas com quem gostaria de ter romances fofos, e nunca segui as indicações à risca. O fato é que eu gosto, realmente, do tal capricho gramatical. Sabem aqueles caras que escrevem, ao menos, se fazendo entender? Sem frescura, apenas com postura de quem entende que uma vírgula bem empregada faz a diferença? Pois é, fico fantasiando em como o cara, ao valorizar uma reles vírgula, também pode prestar atenção na alma feminina, e não só no derrière, enfim. Tem quem goste de sons de carro ensurdecedores. Bem, eu gosto de babacas que curtem colocar vírgulas em suas frases, acho um charme.
           Acho válido discutir algumas cositas a respeito desse encantamento gratuito com que somos atacados várias vezes na vida, a dita paixão. Voltemos a minha análise provinciana: mas e quando há o encantamento paralisante agudo antes de qualquer imunidade? Antes de trocar ideias por escrito? Aí que me refiro, meu caro Watson. Eu nunca quis admitir, mas creio que deva começar a considerar a teoria que diz que nos apaixonamos sem querer. Que nos apaixonamos por ilusões dentro da nossa cabeça. Que nos apaixonamos por jeitos de ser, e não por roupas de marca ou, vá lá, capricho gramatical. Tais detalhes podem realmente fazer algo crescer ou morrer em pouco tempo, mas acho que as paixões nascem do nada mesmo. Quando a droga dos olhares insistem em se cruzar e conversar um dialeto próprio. Que sina, caros humanos, que sina...
           O fato é que, depois de vasta experiência no ramo da decepção galopante citada, fiquei mais esperta. Não a ponto de não me apaixonar mais na vida, claro, até porque, diga-se de passagem, sempre existem por aí professores solícitos de judô nos prédios vizinhos, esportistas sarados que levam seus Goldens Retrievers para passearem na praça mais próxima, ou bateristas de bandinhas de garagem donos de cintilantes olhos azuis, a fim de alimentar platonismos e viagens na maionese. Sigo constantemente apaixonada - nem que seja por Malvino Salvador e seu corpo moreno definido da cor do pecado - me refiro, isso sim, à fatídica constatação de que, provavelmente, vamos nos encantar pela criatura mais improvável na face da terra sempre. Os hormônios de Mariazinha só saltitavam por metaleiros tatuados e com rostinhos de mafiosos italianos, mas, eis que em um belo dia, viu-se perdida de amores por um corretor yuppie da bolsa de valores que, praticamente, vivia acampado na Avenida Paulista. Reflitam.
            Já escreveu a sempre espirituosa Martha Medeiros, que nos apaixonamos pelo mistério, pelo tormento provocado, pelo cheiro que invade; nada de referências criteriosas, nada de muito racional, nada de muito seguro. A paixão, como se viu no início do texto, corrompe qualquer credibilidade - possivelmente ninguém mais vai me dar atenção quando eu disser que sofri uma desilusão ortográfico-amorosa. A paixão é uma raposa, uma vaca, ninguém sabe de onde veio, ninguém sabe aonde vai, é a capitã-mor do caos, não? Quisera eu ter aprendido isso antes, ou, quem sabe, ter tomado um banho gelado - como gritaram na minha carinha.

 

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