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Sobre notícias sem-sal e reportagens charmosas


Eu sempre achei as notícias sem-sal. São sucintas, vá lá, têm sua serventia, enchem de novidade a vida dos transeuntes por aí, mas não queiram elas ter o charme das reportagens, dos livros-reportagem. Elas são frias, são pálidas, não escavam, não procuram além do que o fato oferece – ele e seu miserável lead. São ótimas, claro, super servis, informam com maestria, apavoram com crueza ímpar, embebedam de realidade todo o boteco..... ah, mas não queiram elas, no alto da sua previsibilidade, ter todo o arsenal de suas primas-irmãs. Tirem o editor-chefe da chuva, suas recalcadas.
No Jornalismo, você aprende que deve ser breve. É tipo fazer um charminho e sair de cena. Conte o que, quem, quando, onde, e, se der, alguma outra coisinha e vaze, seu exibido! Seu leitor/ouvinte/telespectador não tem tempo para conversinhas para boi dormir. Tá, tudo bem, a gente entende. Mas é que... ah, sabe... eu não tava preparada para essa economia. Eu sou leonina, meu bem, sou tudo, tudo – menos breve. Sou espalhafatosa narrando, quem dirá escrevendo. Preciso de muito adjetivo e superlativos e diminutivos e ironias e gracejos linguísticos e bagunça interpretativa para me sentir um pouco que seja realizada. Eu quero contar a história, lógico, mas tem que haver uma romantização digna da coisa, entendem? Se não, de que jeito vou ganhar meu Prêmio Esso? Meu Jabuti? KKKK... De que jeito provocar os instintos mais viscerais do meu leitor? De que jeito fazer esse desgraçado chorar, rir ou me odiar até a morte? Eu preciso de um recheio gordinho, uma conotação honesta e desimpedida. Eu preciso provocar algum sentimento, e não botar alguém para dormir com alguma manchete repetida à exaustão.
Eu quero a reportagem tocando bem fundo na ferida, fazendo da fonte um astro que ganha um diário vívido naquelas linhas, contando sua sina insuspeita. Eu quero que sua apatia anônima ganhe voz, forma e provoque os acomodados. Eu quero identificação gratuita. Eu, definitivamente, preciso sentir que isso vale a pena de algum modo. É, espalhafatosa e idealista – tô fodida desmo.






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