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Salada de alface e paixão

        E aí que, de repente, não mais que repente, acontece o improvável. Você é premiada pela vida com um cara do jeito que sempre sonhou. Do jeito que queria. Não entro em detalhes físicos e da personalidade, mas, enfim, o fulano é do jeitinho imaginado. Como você sonhou, que vida maravilhosa, não? Só tem um pequeno porém, coisa pouca, um detalhe de nada: você não está apaixonada. Você. Não. Está. Apaixonada. E desconfia que nunca estará, aliás. Detalhe pequeno, diferença brutal.
        Dias passam, e o cara demonstra estar totalmente ''na sua''. Gente boa, partidão. Trabalhador, honesto, um fofo. Ele é um amor, mas para você falta um pouco de loucura - coisa que sobrava com o outro - um que não se importava tanto assim com seus sentimentos, nem abria a porta do carro, todavia fazia você levitar de paixão com um único olhar. Você saiu algumas vezes com o projeto de Brandon Walsh, muito certinho, muito boa companhia, muito atencioso, muito tudo e mais um pouco, mas você segue sem estar apaixonada. Você. Não. Está. Apaixonada. Droga! Até queria estar, mas a cada tentativa de vê-lo com olhos mais famintos e um coração mais palpitante, você se sente mais falsa - definitivamente você não o enxerga como um suculento McChicken, que tem vontade de agarrar com voracidade e comer com a mais honesta lascívia. É inútil forçar uma paixão, minha cara. Você. Não. Está. Apaixonada. Ele pode até fazer bem aos seus dias, ao seu ego, mas é, na melhor das hipóteses, uma saladinha de alface bem insossa.
        Mas o lord - queridinho da sua família - vulgo Salada de Alface da Silva continua arregimentando apoio, ele segue tentando ser seu namorado, sua insensível! Sua melhor amiga faz a defesa dele, diz que é mil vezes melhor o cara gostar mais da mulher que a mulher gostar mais do cara, pois assim você não sofrerá nada do que a maioria das mulheres sofrem, pois assim você não correrá tanto atrás dele, assim não terá tanto ciúme, pois assim você não será a trouxa da história. Nossa, que adrenalina incrível esse relacionamento, quase dois irmãos. vai acabar sendo mãe do cara, vai vendo. Claro que ser objeto de desejo é lisonjeador, claro que gostamos de ter alguém no nosso pé, claro que gostamos de saber que nosso jeitinho estranho encantou um alguém, mas assumir um compromisso por pura gratidão é mediocridade galopante. A paixão é atordoante, mas, convenhamos, sem ela não há nada que resista muito tempo. Tem que haver na relação um espírito de Lúcifer para corroer a alma - em outras palavras, um toque demoníaco que só uma paixão pode dar. Você tem que sentir um encantamento gratuito; e, não, um encomendado.
        Eu sei que as paixões acabam. Eu sei que nos estraçalham e que não só corroem a alma, como nos fazem emagrecer, ficar com olheiras, chorar baldes. Eu sei, já me apaixonei nessa vida. Mas ainda assim, abrir mão delas é mais covardia que o que elas fazem conosco quando dizem goodbye. Tem que ter paixão por mais que machuque, por mais que termine, por mais que seja fugaz - se não você não está sentindo, minha cara, e, portanto, desconfio que esteja viva. A salada de alface é boa, saudável, mas não apetece. Mil vezes um casinho de vinte dias incendiário a uma vida amorosa eternamente no frio siberiano.









     

Comentários

Unknown disse…
brincando, brincando tu quase me arrancou uma lágrima dessa vez! bjos.
Bruna Castro disse…
Nossa, que coisa! Não era p chorar, Edu HUHAI mas que bom que gostou! beijo

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