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Quinze anos

Velho, ontem me deram quinze anos. Quin-ze!

Estávamos mamãe e eu em uma loja, embebidas naquele típico e maçante programa mulherzinha, quando eis que escutei minha genitora confabular com uma vendedora sobre minha magreza - cêis sabem, eu sou um palito, mas um palito muy apetitoso, diga-se de passagem.

- Mas ela é tão miudinha, né? Corpinho...
- Sempre foi assim, mas bah, quantos anos tu dá pra minha guria? (gauchismo lindo de ver, uai)
- Olha, uns 15... é, por aí... tem 15, né?

(risos)

- Ca-paz! Ela tem 23. É formada já e tudo! (mamãe cabando comigo, como quem diz: "nem dá pra acreditar com essa cara de pateta, né?" - só faltou dizer que a véia assiste Tom e Jerry ainda, e toma nescauzinho antes de dormir.)


A moça caiu para trás. E ganhou minha gratidão eterna, evidentemente. Mulher, depois dos 20, sempre vai jogar fogos quando for sentenciada com menos idade. Pode ser babaquice - e, de fato, é - mas a gente fica feliz da vida, encara como o suprassumo dos elogios. Freud deve explicar. Enquanto as duas riam sobre o acontecido, eu fiquei divagando entre uma trocada e outra de roupa. Percebam que nunca passaremos uma ideia unilateral do que somos. A gente é um zilhão de coisas perante os olhos alheios. Quando ponho o pé na rua, não sou mais a jornalista adulta (ao menos no papel, rs) Bruna Castro; eu sou o que a geral quiser, e ela, possivelmente, será bem superficial na análise - que o diga o episódio acima, em que fui uma estudante terceiranista outra vez. Claro, ali houve um veredicto baseado na minha compleição física - que nunca me deixou ser um mulherão, e não há nada de absurdo no causo, em absoluto. Só me chamou a atenção mesmo essa situação. Vai saber quantas vezes não nos arrumamos com o intuito de seduzir todo o time de garotos da rua, destilando a feminilidade que o Tom Jobim cantou pra Helô Pinheiro, e talvez tenhamos passado a ideia errada. Vai saber. Vai saber se numa dessas tentativas, não passamos por adolescentes usando as roupas balzaquianas da titia vaidosa. É uma possibilidade.
O julgamento é inerente aos olhos que nos cercam, não acho um problema. Mas que às vezes pode ser cruel, pode. Eu passo por imbecil lunática, se ouso, sem querer, atravessar a rua com o sinal fechado. Eu passo por cretina mal educada, se não dou atenção a um transeunte que vende rifas, mesmo que ele não saiba que eu tenho pressa para não perder o horário do ônibus. Eu passo por escandalosa que só a fim de aparecer, se rio freneticamente numa conversa ao telefone com uma amiga que não vejo há anos. Eu passo por vagabundinha de quinta, se tento chamar atenção de um cara numa festa, me utilizando de uma brincadeira pouco usual - ele que certamente não sabe que não faço isso com frequência e só fui adiante, porque vi um brilho no olho dele que me fez parar e passar por cima da minha timidez.

- Essa mina deve fazer isso com todos!

Claro que deve. E pode ser que não faça também. Eu passo por qualquer coisa. Você, leitora, passa igualmente. Eu posso ser qualquer coisa diante de quem cruza comigo nessas esquinas nada discretas da vida. É uma delícia e uma desgraça. O fato é que a gente nunca é a mesma coisa, embora seja sempre a mesma. Percebam o caos. Só sei que, depois que me deram quinze anos, tudo lindo. Feliz début para mim.








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