Sabe quando você conhece aquele cara? Sim... aquele. Aquele! Aquele nem é mais pronome sem eira nem beira nesse momento, aquele é tudo menos qualquer aquele. Aquele é pronome demonstrativo de que você se ferrou. Ah, é disso que eu tô falando, que saudade. Que curioso, o tempo congelou, as horas pararam. Como se nada tivesse feito sentido antes daquele encontro ridículo em que vocês se pegaram conversando sobre Beavis and Butt-Head e agridoces lembranças de infância - porque o fato é que ambos tiveram infâncias bizarríssimas nos anos 90. Então você também não conseguia dormir por conta das peripécias do chupa-cabra? Que vidinha patética deliciosa. Deita essa cabecinha cansada de tormentos adultos aqui no meu colo, vai.
E você tem certeza de que, na fatídica hora em que aquela dança de retinas agoniadas se desenrolava, tocava um rock muito nervosão. Com uma letra moralmente questionável, uma loucura. Meus delírios sempre têm muito a ver com música, muita música. Sim, eu lembro... era Stooges. Não, pera, era Dead Kennedys. Bauhaus, claro, Bauhaus!!!! Ele odeia roqueiros, que amor.
Você tenta ficar séria, blasé, a circunstância pede - nada de euforia sob luzes. Só que, velho, de um jeito muito sorrateiro, o sorriso dele meio que abocanha um pouco da sua vida e dos seus planos, foi tão rápido, eu tive que engolir a seco. O sorriso mais bonachão e com vestígios de clareamento tamanha a brancura cor de nuvem, você sente os molares dele mastigando todo o seu corpo e coração, hummm, parece gostoso. Algo muito estranho aconteceu: agora, para qualquer lugar que você olhe, aparecem réplicas da boca dele em 40 polegadas. Trata-se de singelas televisõezinhas imaginárias mancomunadas contra seu discernimento. Olha esse labirinto de telas de plasma me perseguindo, socorro.
Sabe quando acontece isso? Sabe quando aparece aquele cara? Por onde a gente andou tanto tempo sem se encontrar? Que absurdo, justo agora. E o pior de tudo é que você se pega pensando em e-mails educadíssimos do tipo:
Comentários