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Não vou curtir sua página nojenta

Vou tentar problematizar uma questão bem idiota e mínima. Tão idiota que talvez vocês nunca tenham pensado como um problema a respeito. Bom, é só um chute. Nestes tempos insanos e modernos, em que sinalizamos apreciação com meras mãozinhas com o polegar levantado, gostar ou não gostar de algo é quase a mesma coisa, quer dizer, trata-se de uma moeda que não tem mais dois lados. Curtimos o que detestamos. Curtimos por curtir. Não sei vocês, mas eu acho um problemão.
Dia desses, falava com um conhecido sobre páginas que nos mandam, milhares por dia, pedindo uma curtida, uma atençãozinha, uma mão, o que custa, né? Custa, cara. Custa muito. Custa minha paciência - que já não é das mais gandhianas - custa meu senso crítico, custa minhas retinas vendo algo por que não se interessam. Claro, dirá você aí, do alto da sua poltrona: ''mas que ladainha, é só não curtir, pombas!!'' Claro que é simples, mas o simples nem sempre é tão simples quando envolve outrem. E, no momento em que você opta por olhar o lado obscuro das coisas, invariavelmente vai se tornar mais e mais sozinho, é da vida. Quantas páginas você já não curtiu para pagar de legal com o seu amigo? E aquela foto em que sua amiga saiu extremamente bizarra, e você teve que curtir na marra e arrematar com um linda? E vocês que curtem página do Luciano Huck? Não sentem nem remorso?  
Contardo Calligaris, por cujas ideias me interesso bastante, falou sobre isso em uma Zero Hora da vida, há um tempo (a propósito, se for trecho de algum livro dele, me deem um toque). Dói, mas é bem elucidativo: 

(...) é uma posição de muita dependência afetiva. Tanto que, se você tem amigos, é óbvio que tem que curtir tudo o que eles colocam na rede social, porque essa é a verdadeira demonstração de amizade hoje em dia: curtir tudo o que seu amigo posta, mesmo que você não tenha interesse algum. Aliás, tem uma boa razão para isso, porque há geralmente uma reciprocidade: se você curte o que seu amigo coloca, ele vai acabar curtindo o que você coloca. É uma espécie de seguro mútuo sobre o fato de ser minimamente gostado.   

AI, CONTARDO, ME ABRAÇA 
(uma vida para ter dois dedos de prosa com esse ser humano)

O que existe por trás de uma curtida inocente? É, dava uma tese de doutorado. As razões podem ser secretas até para quem curte. Como membros da tribo de curtidores compulsivos, queremos com tal ato, demonstrar que estamos a fim daquela pessoa. Queremos quase sempre marcar uma posição de empatia. Queremos dizer para nossos amigos que estamos acompanhando suas vidas, ainda que pouco nos identifiquemos com o que andam fazendo. Geralmente, também perdemos nossa originalidade, mas o fato é que estamos vacinados.

Ah, já ia esquecendo: não vou curtir sua página nojenta.




Auxiliaram no post:

Make it up - Ben Kweller 
Love ain't no stranger - Whitesnake






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