Basta ele entrar no recinto, para todas torcerem os pescocinhos esperançosos em sua direção. Talvez nem quisesse chamar tanta atenção, mas o fato é que chama. Ele é o cara, não se discute. Entretanto, não age como se fosse o maioral. Não faz o tipo exibido, daqueles que adoram contar vantagem para os amigos. Apenas desfila com uma confiança marota, exalando, humildemente, seus feromônios para a plateia de lobas salivando. Chega, na dele, sossegado, troca algumas palavras com um conhecido que encontrou, ali, por acaso. Ri uma gargalhada gostosa e indecifrável, enquanto seu sensor de macho que sabe o que quer capta tudo o que acontece à volta. Usa um perfume que embriaga qualquer mocinha incauta que ouse chegar perto. Ninguém sabe o nome da fragrância, mas certamente é responsável por uma espécie de paralisia. Pobres das mortais que sentirem, nem vão dormir à noite. Ah, tem mais essa: ele tira o sono, o cara.
O cara é um ponto de interrogação que não foi desvendado nem pela mãe dele. No fundo, ele não sabe o que tem. Só sabe que tem. E não é um deus grego da beleza, como poderia se supor. É atraente, lógico, mas não tem cargo vitalício na academia, tampouco uma carinha de parar o trânsito. Se bem que disso ele entende, essa história de parar trânsitos. Que estrago olhar para esse moço! O forte dele é o charme, e isso nasceu com o filho da mãe, não foi encomendado das Lojas Americanas. Tudo ajuda, claro. O cabelo farto, que vive milimetricamente bagunçado de propósito. Os olhos amendoados e espertos, que vasculham sua alma, antes mesmo de você pensar em dizer "oi". A barba mal feita perfeitamente talhada para os ângulos de seu rosto. O sorriso envolvente e caprichoso, que, aliás, ele não distribui tão fácil (dá para acreditar que ele brinca de tímido?), dentre outros artifícios físicos que ele usa muito bem - ainda que sem querer.
O cara foi abençoado pela natureza, ok. Mas nada disso valeria, se não tivesse essa coisa que é só dele, isso que ele traz nos movimentos, no jeito de andar, de torcer pelo time, de fazer um elogio. E de vestir, ia esquecendo. Maldito bom gosto involuntário. Definitivamente, ele fica bem com qualquer trapo. Sabe aquela camisa xadrez meio marginalizada pela sociedade? Aquela havaiana condenada a viver no submundo da área de serviço? Aquele moletom com capuz que você imaginou poder ser usado só pelo seu priminho de 10 anos de idade? Pois é, tudo fica lindo no nosso imã masculino, digo, no cara. Porque ele é o cara. E não ganhou esse título impunemente. Ninguém mandou ser irresistível, manjar sobre qualquer filosofia de botequim e citar Hermann Hesse. Ser um poço de gentileza e ser o pai dos mistérios. Tudo é culpa dele, oras. Há boatos de que até adivinhe pensamentos e desejos. Mas isso ainda é mera especulação.
Comentários